Uma nova maneira de projetar e modelar

                                                                                                                                                              Fases da renderização das imagens do projeto da Biblioteca da PUC/RJ
 
 
O BIM provê toda informação necessária aos desenhos, à expressão gráfica, à análise construtiva, à quantificação de trabalhos e tempos de execução, desde a fase inicial do projeto até a conclusão da obra. Com isso, os dados para a validação do projeto são automaticamente associados a cada um dos elementos que o constituem.
Divisor de águas, salto tecnológico, novo paradigma para projetar e construir edificações são algumas das expressões que profissionais do setor usam para definir os softwares para desenvolvimento de projetos com a tecnologia Building Information Modeling (BIM). A ferramenta cria informações e documentações coordenadas, que permitem utilizar com maior precisão elementos para prever desempenhos, aparência e custos do edifício. O BIM abrange geometria, relações espaciais, indicadores geográficos, quantidades e propriedades de componentes e produtos empregados na obra. Contém todos os dados sobre a construção, seu ciclo de vida, operação, processos construtivos e instalações.
Quando o projeto de arquitetura modela o edifício, utilizando ferramentas tridimensionais como Archicad, Tekla Structures, Active 3D, MicroStation, VectorWorks, Autodesk Revit, entre outros, o Building Information Modeling provê todos os dados necessários aos desenhos, à expressão gráfica, à análise construtiva, à quantificação de trabalhos e tempos de mão de obra, desde a fase inicial do projeto até a etapa de conclusão da obra e seu uso. A partir do momento em que a edificação é projetada, toda informação necessária para a sua validação se encontra, automaticamente, associada a cada um dos elementos constituintes.
Apesar do uso ainda pouco difundido da ferramenta no Brasil, profissionais que começaram a utilizá-la comemoram as melhorias proporcionadas a seus projetos. Segundo Arthur Assis, gerente de área da TK Brasil (Tekla Structures), escritório responsável pelo suporte do software na América Latina, os arquivos BIM são pequenos e podem ser facilmente enviados por correio eletrônico. “Projetos completos contêm poucos megabites, ao contrário de qualquer desenho pequeno em CAD, que pode ter centenas de megabites por folha de desenho, o que inviabiliza o envio pela internet”, afirma.

ECONOMIA DE TEMPO

Uma das principais vantagens da tecnologia BIM é a economia de tempo, graças à emissão automatizada de desenhos com as dimensões da obra, à verificação do projeto e à eliminação de conflitos entre os desenhos. Segundo o arquiteto João Paulo Meirelles de Faria, sócio da SPBR Arquitetura, o BIM é ainda um poderoso banco de dados. “Ele integra processos na elaboração do projeto de arquitetura, desde a produção de um modelo de apresentações até o desenvolvimento dos desenhos de construção e a compatibilização de informações entre os diferentes projetos complementares. Além disso, integra tarefas como orçamentos e quantificações”, explica.
Assis garante que o ganho de tempo é enorme, com sobra para que os profissionais aprofundem conceitos construtivos e definam projetos com melhores soluções, mais econômicos e sustentáveis. “Acabam as preocupações com o antigo gargalo da emissão de desenhos”, ressalta.
De acordo com o engenheiro Pedro Badra, da empresa SBD Planejamento, especializada em orçamento e planejamento de obras, as principais mudanças no processo de projeto introduzidas pelo BIM são o conceito e a incorporação de elementos construtivos, recurso possível apenas com softwares que produzem representação em 3D. A vantagem é a possibilidade de visualizar e fornecer cortes e elevações de múltiplas localizações. Além disso, podem-se armazenar na base de dados do programa as bibliotecas de elementos construtivos e até o conhecimento do projetista, a serem empregados em trabalhos semelhantes no futuro. Muda a forma de projetar para arquitetos e engenheiros, avalia Arthur Assis, pois o BIM trabalha em ambiente 3D sólido, diferentemente do CAD, que utiliza plataformas 2D.
O BIM facilita também as etapas de especificação e orçamento. Ele evita a desgastante fase que corresponde à interpretação de memoriais descritivos, já que suas descrições estão contidas nas peças de projeto como elementos construtivos de fácil identificação nos layers . “Em relação a orçamentos, outra vantagem do Building Information Modeling relaciona-se ao projeto estrutural, pois a tecnologia fornece cálculos mais precisos de volume de concreto e área de fôrmas, possibilitando definir as interseções entre vigas, pilares e lajes”, destaca Badra, que utiliza a ferramenta BIM há seis anos.
Na engenharia de custos, enfatiza Badra, com o uso do BIM pode-se chegar à redução de 60% no tempo de elaboração da quantificação. “No planejamento, em razão da interpretação geral do projeto e da interação de todas as disciplinas proporcionadas pelo BIM, as análises necessárias para definir tempos e sequências executivas também se reduzem. Em nossos trabalhos de planejamento e orçamento de obras, conseguimos redução de até 70%, com precisão de até 95% em relação à análise e à quantificação de projetos”, calcula.



Perspectiva da biblioteca da PUC/RJ: uso do BIM trouxe vantagens na compatibilização de informações dentro do projeto e na extração de informações do modelo

PROJETOS COORDENADOS

A nova tecnologia provoca mudanças no processo de projeto e de produção de edificações na construção civil. O BIM pode trazer ainda vantagens durante a elaboração dos projetos, sobretudo no gerenciamento, minimizando erros decorrentes da falta de compatibilização. No entanto, Faria afirma que o projeto não deve ser produzido apenas em função de um software ou outro, pois a questão principal não é minimizar o tempo, mas aumentar a eficácia para obter melhores resultados.
De acordo com o arquiteto do SPBR, num projeto de arquitetura, com utilização do BIM, os desenhos (plantas, cortes e elevações) são visualizações de um modelo em 3D. “Constrói-se o modelo e o software extrai as vistas no modo como se costuma ler um projeto. Dessa maneira, a base de dados é sempre uma só, o modelo, e, consequentemente, se este for alterado todas as vistas são modificadas automaticamente”, explica.
“O mais interessante é que o BIM pode abastecer de informações a produção da edificação de maneira industrial e direta. As informações podem ir do computador diretamente para a obra e até para as linhas de produção de elementos construtivos”, considera Faria. Porém, no Brasil, os desenhos ainda são impressos em papel e depois direcionados aos fornecedores e construtores, ele lembra.

TRABALHO INTEGRADO
Em alguns pontos, as diferenças entre o BIM e outros softwares de projeto, como o CAD, não são grandes. Os programas de CAD atuais realizam muitas das operações que também são efetuadas com a tecnologia BIM. Porém, os softwares com a tecnologia BIM trabalham de maneira mais integrada e direcionada para a arquitetura, avaliam usuários.
“A diferença é que no modelo do BIM, além das informações da geometria dos elementos da construção, podem-se acrescentar outros parâmetros, como a densidade de uma viga em aço, com informações sobre seu peso e volume, gerando até simulações sobre o seu comportamento”, explica Faria. A viga não é mais mostrada com valores apenas representativos, por meio de linhas, mas como objeto com todas as suas propriedades, características físicas e geométricas. O mesmo ocorre com as alvenarias, que são definidas pelo tipo de bloco, espessura de revestimento, fabricante etc., o que permite estudos estruturais, tecnológicos e arquitetônicos.



Imagem do térreo da biblioteca da PUC/RJ, projetada pelo escritório SPBR com tecnologia BIM, no Autodesk Revit
 
PRIMEIRA EXPERIÊNCIA

Para o escritório SPBR Arquitetura, foi muito positiva a experiência de projetar com o BIM a nova biblioteca da PUC/RJ, trabalho premiado com a medalha de prata no concurso Holcim de construção sustentável, em 2008. “Ele ainda não foi desenvolvido completamente, em todas as suas etapas. Mas, até onde pudemos perceber, o BIM trouxe vantagens na compatibilização de informações dentro do projeto e na extração de informações do modelo”, diz Faria. E apesar de a tecnologia facilitar a coordenação de projetos, resolver as interferências entre os sistemas e reduzir erros, o arquiteto conta que não conseguiu ter ainda a experiência completa do uso do BIM com outros projetistas, pois poucos escritórios no país o utilizam.
Dessa maneira, o SPBR precisou utilizar o BIM em conexão com as ferramentas de CAD tradicionais. “Sei que existem escritórios de cálculo de estruturas e de instalações que utilizam o BIM, mas até o momento não trabalhamos com nenhum. Com isso, todos os desenhos produzidos no BIM serão lidos pelos projetistas como desenhos de CAD 2D. No sentido contrário, toda informação produzida por eles em CAD 2D precisa, se for o caso, ser modelada para que se possam utilizar, de maneira completa, as vantagens da ferramenta BIM”, completa Faria.
O BIM facilita ainda a especificação, já que permite a inserção de diversos parâmetros nos elementos do modelo 3D. Com isso, é possível extrair tabelas de quantidade, estimativas de custo, peso e volume. “A vantagem disso no BIM, com relação ao CAD tradicional, é a facilidade de operação que a nova interface oferece. No entanto, inserir dados ou elementos componentes de um projeto no modelo 3D é sempre mais trabalhoso que fazer um projeto só em duas dimensões”, revela Faria.

Texto de Heloisa Medeiros
Publicada originalmente em FINESTRA
Edição 57 Junho de 2009

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