9ª BIA: arquitetos dinamarqueses ensinam como valorizar espaços públicos

De passagem pela Bienal Internacional de Arquitetura, delegação da Dinamarca afirmou que os profissionais precisam se comunicar com a sociedade, políticos e o mercado para mostrar o valor da boa arquitetura. Confira entrevista


Nilbberth Silva, da redação da revista AU

 

Expor suas ideias para tornar as cidades mais sustentáveis e agradáveis de viver e, quem sabe, fazer alguns negócios foi o que trouxe uma delegação dinamarquesa à 9ª BIA em São Paulo.  Sofrendo com o calor do final da tarde na Oca, estavam Kai-Uwe Bergmann, do BIG, Claus Billehøj da prefeitura de Copenhagen, além de Solveig Nielsen e Gustavo Ribeiro, do Centro de Arquitetura Dinamarquesa (DAC). "É uma honra expor nesse prédio", alguém disse. Na Bienal, os arquitetos haviam participado de uma mesa redonda com o tema Copenhagen: como fazer uma cidade habitável.

Para os dinamarqueses, a missão dos arquitetos na empreitada não se resume a projetar. É preciso incluir o tema na lista de preocupações do cidadão comum, dos planejadores urbanos e de quem tem o poder - político e financeiro. Para influenciar é preciso comunicação: valem desde a publicação de vídeos na internet e exposições até encontros de arquitetos com empresários e profissionais responsáveis pela tomada de decisões. Seguindo a tradição escandinava do estado forte, o governo dinamarquês criou o DAC, cuja principal tarefa é mostrar ao povo o valor da arquitetura de boa qualidade.

Dinamarca_arquitetos

Da esquerda para a direita: Claus Billehøj, da prefeitura de Copenhagen, Kai-Uwe Bergmann, do BIG, Gustavo Ribeiro e Solveig Nielsen, do Centro de Arquitetura Dinamarquesa (DAC)

 

As idéias ficam claras na entrevista abaixo:

O Brasil não tem tradição de valorizar o espaço público. Como mudar isso?

Solveig Nielsen - Estamos tentando mostrar um pouco do modelo de Copenhagen, que envolve criação de plataformas para o diálogo, para criar um entendimento comum de que questões arquitetônicas são importantes. Não acontece do dia para a noite, leva anos. O Centro de Arquitetura Dinamarquês (DAC) é uma plataforma para diálogo entre os políticos, arquitetos e cidadãos. Só através desse diálogo você pode fazer que os tomadores de decisão planejem a cidade para crescer incorporando os espaços urbanos como um ponto importante. O município de Copenhagen emprega urbanistas, mas as decisões são feitas por pessoas normais, sem nenhum insight especial sobre qual tipo de mudança a arquitetura pode trazer.  Por isso existe um lugar como o DAC: trabalhamos no meio político para mostrar aos tomadores de decisão a qualidade que a arquitetura pode trazer para a cidade, e o que arquitetos inovadores podem fazer, pelo mesmo preço, tanto pelo cliente quanto pela cidade.

Gustavo Ribeiro - Isso tem a ver com assumir seu papel de liderança enquanto arquiteto. Você cria uma agenda política e se interessa pelo processo político. Mas também diz: como posso inovar, criar soluções melhores? Assim você desafia o sistema, as pessoas que fazem o planejamento a adotarem melhores soluções.

Kai-Uwe - Isso chega à comunicação, à maneira que você comunica o urbanismo. Sem o DAC, nem eu nem Claus estaríamos aqui. É necessário uma instituição para abrir o diálogo para falar sobre essas questões. Por que apenas arquitetos estão vindo à Bienal para ver o trabalho de outros arquitetos? Quando vocês têm o potencial de envolver de verdade muito mais da cidade. Assim consegue ter todo tipo de gente vindo para ver arquitetura.

Como vocês fazem isso na Dinamarca?

Kai-Uwe - Copenhagen tem medo de altura. O prédio mais alto da cidade foi, por séculos, um edifício de oito andares. O que o DAC fez? Uma exposição sobre os maiores arranha-céus do planeta. Estão tentando levar à frente a discussão sobre o que significa ser alto. Também a sua revista tem responsabilidade de não ter apenas leitores arquitetos ou urbanistas, mas aumentar o espectro, para atrair muito mais gente. Um jeito que a gente faz isso: fazemos um projeto e depois um filme. Eu ponho no Youtube e 100 mil pessoas assistem ao filme - gente que não tem nada a ver com arquitetura é tocada por um filme sobre um projeto. Quando a gente alcançar essa quantidade de pessoas, estaremos falando em mudança. [O BIG realmente conseguiu essa audiência em seu canal do Youtube com o projeto do pavilhão da Dinamarca, na exposição mundial de Shangai].

Uma cidade de 19 milhões de habitantes pode ser sustentável?

Claus Billehøj - Sim. Não importa o tamanho da cidade, por que não é uma questão de coisas, de elementos. É uma questão de como os tomadores de decisão lidam com os problemas e trazem especialistas para criar soluções.  Os mesmos princípios se aplicam a grandes e pequenas cidades. Muitas das soluções de Copenhagen podem ser feitas em escala maior. São Paulo tem um histórico de falta de planejamento, de delegar a tarefa ao mercado imobiliário.

Como tornar uma cidade assim sustentável?

Claus Billehøj - Tanto o mercado quanto o governo têm seus papéis no processo. O que é importante é que eles trabalhem na mesma direção, e que saibam onde começa e termina suas funções.  Não existe um modelo mais eficiente para isso.  Penso que há tendências, estratégias que você pode aprender, mas é preciso ter conhecimento do contexto local. Tornar uma cidade sustentável também envolve combinar diferentes setores em esforços e processos. Penso que arquitetos no Brasil fariam muito bem em apoiar isso. As ideias, o treinamento e o método usado pelos bons arquitetos poderiam ajudar a administrar a cidade. Bons arquitetos podem planejar a administração urbana.

Gustavo Ribeiro - Também tem a ver com criar sensação de ser dono. Um bom exemplo disso é o projeto do Superkilen, do BIG: o projeto cria um espaço para uma população multi-étnica e emprega objetos dos diferentes país para criar identificação.

Kai-Uwe - Sustentabilidade também é ambiental: dar condições aos cidadãos de trabalharem na cidade, tomar decisões que criam a sensação de ser dono, sentirem-se orgulhosos do lugar.

O que vocês acharam da Bienal? Como ela pode ficar melhor?

Kay-Uwe - Ela tem um potencial que pode ser levado a níveis muito mais altos, com mais países participando, mais atividades, discussões e mesas redondas. E também envolvendo as pessoas de São Paulo, outras comunidades profissionais.

Solveig Nielsen - Gostaria de dar crédito à Bienal por escolher o tema Arquitetura para todos, construindo a cidadania. Já por ter esse tema, a bienal conseguiu estabelecer uma discussão do que podem ser as questões mais cruciais para desenvolver cidade e espaços urbanos melhores.  A Bienal pode melhorar construindo uma tradição de discutir arquitetura. Tendo mais mesas redondas: o diálogo é tão importante quanto a própria exposição. Por que é sobre isso que uma bienal é. E abrir a Bienal para outros, além de arquitetos, é um passo muito importante. Causaria uma grande mudança no jeito de pensar a arquitetura.

A exposição

A exposição "Copenhagen: como fazer uma cidade habitável" é uma versão reduzida da apresentada na Bienal de Veneza.  Em São Paulo, destacavam-se as maquetes do Centro Cultural em Bispebjerg do escritório Cobe, e de dois projetos do BIG: o edifício residencial A Montanha e a usina de tratamento Amager, que também funcionará como pista de esqui.  Todo o conteúdo está no site http://digitalgallery.cphx.dk/en, onde é possível escolher projetos e fazer uma revista personalizada para receber em casa.

 

Fonte e reportagem completa: http://www.piniweb.com.br/construcao/arquitetura/9-bia-arquitetos-dinamarqueses-ensinam-como-valorizar-espacos-publicos-240702-1.asp

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