Como construir cidades: poder público, arquitetos e a bienal de Roterdã se unem para encontrar respostas

5ª Bienal de Arquitetura de Roterdã traz 37 exemplos de projetos urbanos pelo mundo. São Paulo está presente com três casos


Por Bianca Antunes, de Rotterdã

IABR

Como fazemos a cidade? Sujando as mãos, diria George Brugmans, diretor da 5a edição da IABR - Bienal Internacional de Arquitetura de Roterdã. Essa foi a questão levantada para a Bienal deste ano, inaugurada dia 19 de abril e que segue até 12 de agosto em Roterdã, Holanda. Aqui, fazer a cidade é a questão-chave que permeia todo o evento, e está viva nas soluções expostas.

A resposta certa a essa questão não existe, alerta o diretor da 5a IABR, mas há alguns caminhos, como alianças entre os vários setores de uma sociedade - arquitetos, governos, empreendedores - e mão na massa.

Aliás, diferentemente de outras bienais pelo mundo, mais teóricas ou mais expositivas, aqui se propõe mais do que um debate, propõem-se ações. "Não sei se é a melhor maneira de fazer uma bienal. Mas pensamos que é necessário nesse momento. Aqui nós falamos de urbanismo, somos ativistas. Não queremos ser um instituto, mas um operador urbano, queremos construir nossa resposta à questão", completa.

A ideia de fazer uma bienal diferente deu certo. Um dos principais eixos do evento são soluções em três cidades, com estudos e trabalhos realizados em conjunto com a Bienal, com arquitetos locais e com o governo para a análise de uma região da cidade e a proposta de um projeto com grandes chances de ser construído. Tudo isso em algo até hoje impensável para bienais brasileiras: um trabalho que começou há dois anos.

Roterdã x São Paulo
São Paulo é uma das cidades focadas - aqui chamadas de Test Sites - e traz um projeto na região de Cabuçu de Cima, extremo Norte da cidade. O projeto é uma parceria entre o IABR, a Secretaria de Habitação (Sehab) e o escritório MMBB, que é o curador brasileiro da bienal, e inclui rede de infraestrutura, habitação, preservação do meio ambiente.

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A parceria internacional trouxe experiências e trocas de conhecimento no decorrer de um projeto que já estava em desenvolvimento - trocas que incluiram fortemente a presença dos moradores locais, com a instauração do Ateliê São Paulo, formado por pessoas da comunidade que discutiram os problemas de seu bairro.

Cabuçu de Cima fica cercado pela Serra da Cantareira e possui 220 mil habitantes. A área é sujeita ao impacto de novas infraestruturas, incluindo o Rodoanel que, apesar dos problemas sustentáveis, pode aumentar a economia do local e conectá-lo com áreas importantes como o aeroporto de Guarulhos e o bairro de Pirituba, local escolhido para receber o maior parque de feiras e exposições da América Latina - e no qual a atual administração pretende trazer a World Expo 2020.

"O Test Site São Paulo explora formas de conciliar o crescimento com a pressão do sistema ecológico e os desejos genuínos da população. Essa agenda precisa ser levada a sério por uma metrópole em delicado momento de transição: para São Paulo, é hora de considerar novas formas de fazer a cidade", diz Fernando de Mello Franco.

A Bienal
Não são só os três Test Sites (São Paulo, Roterdã e Istambul) que fazem a Bienal de Rotterdã. Formas de construir um novo ambiente urbano permeiam o evento. E exemplos não faltam. Em um percurso curto, mas denso, os visitantes são bombardeados por ideias de cidades - ou soluções para problemas comuns. Há uma seleção de 'melhores práticas' pelo mundo, de Delhi a Amsterdã, da Guatemala a Bordeaux, com a apresentação de casos como a nova configuração para a região de La Defense, em Paris, que pretende baixar seu skyline até 2030 e reconectá-la aos outros bairros da cidade, o premiado projeto do High Line, em Nova York (AU 188), e o brasileiro Cantinho do Céu, espaço público criado por Marcos Boldarini na região Sul de São Paulo, à beira da Billings.

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Uma mostra paralela, Smart Cities, completa o evento. E São Paulo mais uma vez está presente, e mais uma vez com um espaço de discussão de suas favelas. A FAU-Mackenzie em parceria com a Academia de Arquitetura e Urbanismo de Amsterdã (Holanda) e a Parsons the New School de Nova York, com apoio da Sehab e de associações comunitárias de Heliópolis, propôs projetos para uma região de cerca de 100 mil habitantes. A iniciativa trabalha ideias para a melhora urbanística e de qualidade de vida de Heliópolis, propondo que os moradores sejam cocriadores de ações e mudanças após identificarem potencialidades e oportunidades. Visa, com isso, a criar um espaço público que reforce as interações sociais locais sem que seja preciso remover pessoas.

Assim, com projetos reais de discussão da cidade, com respostas pontuais a problemas urbanos por todo o mundo, o objetivo da 5a Bienal de Roterdã é levado a sério. "Vamos usar a bienal como um lugar que crie ideias, inteligências, design, conhecimento", conclui George. A discussão está colocada, e estará exposta até dia 12 de agosto em Rotterdã. O Test Site São Paulo viaja também para sua cidade natal - com o nome Making City São Paulo, uma exposição no Museu da Casa Brasileira irá mostrar as discussões do caso paulistano, de 19 de junho a 12 de agosto.

Fonte: http://www.piniweb.com.br/construcao/arquitetura/como-construir-cidades-poder-publico-arquitetos-e-a-bienal-de-256708-1.asp

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