Como a Arquitetura pode contribuir para a humanização do ambiente hospitalar

Márcia Brandão NOTÍCIAS - Saúde


Segundo a pesquisadora na área de design em estabelecimentos de saúde Jain Malkin, diretora do Center for Health Design (EUA), vários estudos baseados comprovam que a elaboração de projeto arquitetônico, que pensa no bem-estar do paciente e das equipes de saúde, contribui na recuperação dos atendidos, assim como  na redução de erros médicos. Para Fábio Bitencourt, presidente da ABDEH - Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar a qualidade da luz, da cor, da acústica, do ar com aplicação de conceitos ergonômicos ajudam na diminuição do estresse nos ambientes de saúde.
Em pesquisa no Hospital de Yale sobre o que mais agravada, a maioria dos pacientes citou as janelas.
Por conta dos resultados benéficos, provenientes da arquitetura para a recuperação dos pacientes e da melhoria da qualidade do trabalho dos profissionais da saúde, muitos hospitais estão apostando nos conceitos do “Design Baseado em Evidências” nas suas construções. Pesquisas como a feita pelo Center for Health Design, usando como referência o Alphonsus Regional Medical Center, em Boise, no estado de Idaho (EUA), mostram que a adoção de medidas para a redução de ruído nos estabelecimentos de saúde pode melhorar o sono dos pacientes em até 7,3%. A especialista Jain Malkin, diretora do centro norte-americano, vem ao Brasil em setembro, para falar sobre conforto nos ambientes de saúde durante V Congresso Brasileiro para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar.
Após levantamento com pessoas internadas, no Hospital de Yale, New Haven (EUA), sobre o que mais lhes agradava no hospital, a maioria citou as janelas. “A observação do exterior e da dinâmica da vida urbana, que é possível visualizar, além das condições naturais da chuva, do vento, das modificações do desenho das nuvens, são aspectos relevantes que podem contribuir na recuperação dos pacientes”, explica Fábio Bitencourt, presidente da ABDEH - Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar.
Além da inclusão das janelas, que podem provocar impactos positivos tanto fisiológicos como psicológicos nos assistidos, outros fatores são determinantes para o bem-estar dos pacientes. Entre eles: os tons das cores, a acústica, a qualidade do ar, a sinalização, a localização do mobiliário, as iluminações natural e artificial e outros detalhes. “A arquitetura tem, portanto, a oportunidade de ajudar transformando os processos críticos e a percepção técnica e funcional dos espaços construídos, com a finalidade do acolhimento humano”, ressalta Bitencourt. “Porém, a cada projeto arquitetônico é preciso pensar nas características de cada local que incluem condições ambientais, climáticas e culturais para proporcionar conforto”, completa. 
Segundo o presidente da ABDEH, o arquiteto tem um grande desafio quando pensa na humanização dos espaços das unidades hospitalares. Para cada ambiente é preciso atender as condições distintas, pensando no benefício tanto dos profissionais da saúde como dos doentes atendidos. “Todo projetista deve começar seu trabalho perguntando a si mesmo: O que conforta esse paciente? Quem é ele? É idoso, é jovem? O que podemos implantar no projeto que minimize seu momento de dor e angústia?”, ensina Carla Vendramini, designer e vice-presidente de Marketing da ABDEH. “Todos nós passamos ou vamos passar por esse momento, todos nós seremos pacientes, então, a partir de nós mesmos, humanos, saberemos atender essas demandas”, acrescenta.
“No centro cirúrgico, por exemplo, é preciso facilitar o ajuste de temperatura, conforme o procedimento médico. O local também deve oferecer  maior luminosidade sem que haja reflexos de objetos e muita atenção com a vedação de luminárias e interruptores para evitar o acúmulo de sujeira, e por consequência a contaminação dos ambientes. Já nos quartos, além da inclusão da janela, essencial na promoção de conforto, é importante pensar nas cores. Apostar em tons claros ao invés do branco auxilia na diminuição da ansiedade, melhora o humor e promove o relaxamento”, analisa Fábio Bitencourt.
Outro lugar que deve ser considerado com relevância pelos arquitetos nos hospitais, é a sala de espera, pois é um local cercado de tensão e expectativa, seja para esperar notícias de um paciente, aguardar para fazer exame ou passar por uma consulta. “Na recepção é importante apostar nas informações visuais com diversidade de cores, elementos de artes (esculturas, quadros e pinturas abstratas) e iluminação mais suave. Todos esses detalhes devem ser proporcionais para não interferir na harmonia do espaço arquitetônico circundante. Os elementos de sinalização, com informações sobre atividades, função, pessoas e horários, devem ser de fácil manuseio para eventuais trocas, com o mínimo de tempo e custos reduzidos”, ressalta Fábio.
Na sala de exame, é preciso avaliar cada tipo de procedimento. Nesses casos, a arquitetura deve pensar em três tipos de situações: no alívio, liberdade e transcendência. “No primeiro, é quando o paciente tem um resultado bom, o segundo é a consequência do anterior, seja ele positivo ou negativo. Já na terceira hipótese, se o retorno for ruim, é necessário compensar o desconforto pensando nos detalhes de arte e estética (cores, luz e música)”, expõe o presidente da ABDEH, que já fez projetos de diversas maternidades públicas no estado do Rio de Janeiro e é autor da tese de doutorado “Arquitetura do Ambiente de Nascer”, pela UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Segundo o especialista, o mobiliário também não deve ser esquecido. Ele recomenda que o design apresente soluções que contemplem as necessidades referentes às dimensões humanas, às necessidades fisiológicas de cada individuo e considere as limitações e fragilidades de cada pessoa. Deve observar também os aspectos de evitabilidade de acidentes, atenda às normas de segurança e que sua distribuição no ambiente proporcione conforto e atenue as tensões que ocorrem nos serviços de saúde.

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