É preciso avaliar o ciclo de vida

A avaliação de materiais e sistemas para a construção sustentável deve ser baseada na metodologia de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)

Redação AECweb / e-Construmarket

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"Metodologia de Avaliação de Sistemas Construtivos a partir da Avaliação de Ciclo de Vida de uma Edificação". Este foi o tema que a arquiteta Danielly Borges Garcia, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unileste (MG), defendeu em sua tese em 2011. “Eu estava em busca de alguma novidade na área da sustentabilidade, além disso, queria entender melhor os impactos gerados pelo uso de determinados materiais na Construção Civil", diz. A docente comenta que durante a pesquisa percebeu que as novidades nesse campo ainda eram escassas, se restringindo ao uso de energias alternativas e ao reaproveitamento de água ou, ainda, à aplicação de componentes isolados em determinada edificação.

Segundo ela, o ciclo de vida de um produto acarreta uma série de impactos ao meio ambiente, que vão desde a extração da matéria-prima à finalização do processo produtivo, bem como sua utilização em uma obra. “Em primeiro lugar, é necessário um esforço coletivo para se produzir bons produtos, a fim de garantir desempenho satisfatório para a função à qual foram destinados. Daí a necessidade de se projetar, considerando a qualidade dos espaços habitados. Mas, antes de tudo, é preciso entender o conceito”, destaca.

Verdadeiro conceito

Na opinião de Danielly Borges Garcia, a arquitetura sustentável é aquela correta, herdeira da arquitetura vernacular, que utiliza os recursos naturais com respeito, além de aliar tecnologia às técnicas tradicionais. O projeto é o que define se o edifício será sustentável ou não, antes mesmo da escolha dos materiais. Neste contexto, a construção deve ser vista como um organismo que vive em harmonia com o meio e que garanta um ambiente saudável.

Contudo, é notória a banalização do conceito, explorado em alguns casos como mero argumento de marketing. Para Danielly, em primeiro lugar, deve-se identificar a qual aspecto da sustentabilidade está se referindo, pois, além das questões relacionadas ao meio ambiente, igualmente importantes são as dimensões sociais, econômicas e culturais. “Entre os exemplos, podemos citar quesitos mais abrangentes, tais como implantação com o mínimo de impacto para o entorno, seleção de materiais de menor impacto ao meio, formas alternativas de energia, entre muitos outros”, afirma.
A professora lembra que a utilização de soluções, como aproveitamento de energia solar, por meio do uso de equipamentos adequados, ou ainda o uso de sistemas de captação de água de chuva são soluções benéficas, mas insuficientes para caracterizar um empreendimento como sustentável.

A avaliaÇÃo

A avaliação de materiais e sistemas para a construção sustentável deve ser baseada na metodologia de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV). Por meio da ACV são verificados os impactos gerados desde a fabricação de um produto, passando por sua instalação, operação no edifício e descarte no fim da vida útil. De posse da ACV de materiais, que possuem uma mesma função, são definidos quais provocam menor impacto ambiental.

Logo, a avaliação só será possível se houver informações fundamentadas no processo de produção e funcionamento desses materiais. “Atualmente fabricantes não apresentam laudos de desempenho dos produtos, como também não informam processos e impactos gerados na produção ou descarte dos materiais”, destaca a profissional.

Isso ocorre devido à falta de demanda por essas informações. Mas, a boa notícia é que o cenário tende a mudar. Com a norma de desempenho ABNT NBR 15575 em vigor, os projetistas terão de especificar materiais considerando desempenhos estrutural, acústico, térmico, lumínico, de estanqueidade e de durabilidade. De maneira que essas informações serão gradualmente incorporadas pelas empresas.

A partir deste novo procedimento, a criação de inventários de ciclo de vida de materiais será um caminho natural. Sem essas informações, os consumidores ficam a mercê de dados pontuais sobre produtos que, apresentados isoladamente, não agregam qualidade ao funcionamento de um edifício. Um exemplo é o uso de insumos reciclados na fabricação de alguns componentes. Danielly enfatiza que é necessário saber, por exemplo, se a existência desse item proveniente de reciclagem fará diferença na durabilidade do sistema. Ou ainda, que desempenhos estruturais, térmicos ou acústicos o sistema terá.

Compatibilidade

Vale lembrar que os materiais por si só não garantem uma obra sustentável, mas sua utilização bem concebida em um projeto pode assegurar desempenhos de segurança, bem como condições de habitabilidade e adequação ambiental. “Por isso, é imprescindível a compatibilização entre os materiais e processos construtivos”, explica. Além disso, ações como essa evitam desperdícios significativos.

Quanto aos materiais, devem passar pela conformidade normativa e atender ao desempenho estabelecido ao integrar um sistema construtivo. “A garantia da qualidade deve vir antes mesmo da discussão sobre sustentabilidade, considerando que o simples atendimento às normalizações já representa um grande passo em direção à sustentabilidade”.

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Danielly Borges Garcia – Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em Engenharia de Estruturas e Acústica de Edificações pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutora em Engenharia de Estruturas pela UFMG, sob o tema Avaliação de Ciclo de Vida de Sistemas Construtivos. No Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste MG atua como professora em regime integral do Curso de Arquitetura e Urbanismo.

Fonte: http://www.aecweb.com.br/comunidade/Materia_Leitura.asp?idMateria=6953

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