Soluções para melhorar a mobilidade urbana

Adélia Borges (especial), Valor Econômico

O tema da mobilidade não está na ordem do dia apenas nas manifestações que se espalham pelo Brasil. Ele está também na pauta de designers de todo o mundo, que se esforçam no projeto de produtos e de serviços que ofereçam soluções para viabilizar o direito de ir e vir. Um exemplo está nos projetos selecionados para o prêmio Index, que acaba de divulgar a lista com os resultados de 2013. Essa iniciativa, promovida na Dinamarca, porém com alcance mundial, vai muito além da "carinha bonita" com que o design ainda é (mal) entendido por muitos. Seu subtítulo, "Design to Improve Life", coloca a premiação a serviço do incentivo ao design que efetivamente contribua para a melhoria de vida das pessoas. A realização se tornou um dos mais importantes eventos mundiais com o foco na dimensão social do design.
Neste ano, o concurso recebeu 1.022 inscrições de 73 países. Entre elas, o júri selecionou 60 finalistas - o que já é considerado uma forma de premiação. Nesse universo, alguns projetos se voltam para o desafio da mobilidade, apresentado pelos organizadores como "a criação de formas sustentáveis de transporte de pessoas e bens em contextos local e global".
Um dos projetos selecionados amplia os sistemas de compartilhamento de veículos individuais nas cidades - dos quais o sistema Velib, em Paris, foi pioneiro, seguido no Brasil pelos aluguéis de bicicletas em cidades como o Rio e São Paulo. O grupo responsável pelo projeto batizado de Getaround, sediado em San Francisco, nos Estados Unidos, parte da constatação da "superpopulação" de carros (há um bilhão deles em todo o mundo) e da sua ociosidade (segundo eles, em média um carro fica parado 22 horas por dia) para propor um sistema que amplia o compartilhamento.
Ele passa a incluir carros disponibilizados por pessoas comuns, que terão no compartilhamento uma fonte de renda. Amigos, colegas de trabalho e vizinhos podem receber a chave do veículo entregue diretamente pelo proprietário. Desconhecidos autorizados pelo dono usam o Carkit Getaround, tecnologia desenvolvida pela equipe do empreendimento que permite abrir o carro com smartphones.
Os proprietários dos veículos recebem mensalmente o valor correspondente aos aluguéis do mês, e o mecanismo permite que eles tenham total controle a respeito de para quem alugar e quando.
Os criadores enfatizam que "cada carro compartilhado tira 13 carros das vias públicas", então as pessoas podem "fazer a diferença" por meio da partilha. Os empreendedores querem que a ideia se difunda e possa ameaçar os prognósticos de que a frota mundial de carros particulares vai dobrar de tamanho na próxima década.
DivulgaçãoMensageiro do Riders for Health, em Lesoto: fluxo mais ágil entre material coletado de pacientes e os laboratórios
Outro projeto selecionado pelo prêmio Index argumenta que todo o processo de modernização do transporte ocorreu exclusivamente no âmbito do aperfeiçoamento dos veículos. As vias sobre as quais os veículos trafegam são praticamente as mesmas desde o fim do século XIX, quando o asfalto começou a ser utilizado. A equipe holandesa responsável pelo Smart Highway volta suas atenções para as estradas, com o objetivo de tornar a condução mais segura, diminuindo os acidentes e mortes no trânsito, e de aumentar a sustentabilidade das rodovias.

O projeto não implica a construção de novas estradas, mas no melhor aparelhamento das existentes, com dispositivos "inteligentes", como o próprio nome diz. Uma tinta especial - cujos componentes são guardados a sete chaves - foi desenvolvida para absorver a luz do sol durante o dia e se iluminar à noite. Ela é aplicada sobre as faixas centrais da pista e sobre outros sinais de segurança, que passam a ser muito mais visíveis no período noturno. O sistema torna desnecessários os postes de iluminação das estradas - mas, quando eles existem, prevê-se que utilizem energia solar.
Dispositivos interativos se ligam automaticamente em determinadas condições - quando a temperatura cai para abaixo de zero, por exemplo, ou quando os ventos se intensificam - e se acendem sinais de aviso aos motoristas, com designs autoexplicativos na superfície da rodovia ou nas laterais.
Um dos dispositivos mais futuristas do sistema é aquele que, se bem-sucedido, facilitará enormemente a vida dos condutores de veículos elétricos: em vez das longas paradas para carregar as baterias, essas seriam carregadas por um sistema instalado na própria superfície da estrada.
Àqueles que não acreditam no projeto por considerá-lo "sonhador" demais, uma reportagem no jornal "The New York Times" lembra que o designer à frente de seu desenvolvimento, Daan Roosegaarde, de 33 anos, é o mesmo que criou em Roterdã a emblemática danceteria Watt Club, onde todo o seu gasto energético é suprido pelos movimentos dos bailarinos captados por sensores embutidos no chão.
Associado à empresa Heijmans Infrastructure, Roosegaarde pretende implantar até o fim do ano um trecho-piloto numa estrada na província holandesa de Brabant, na fronteira com a Bélgica.
DivulgaçãoDaan Roosegaarde, de 33 anos, que está à frente da Smart Highway: planos para implantar trecho-piloto na Holanda
O Index também inclui soluções de mobilidade individual, e não apenas de pessoas, mas de bens. Um exemplo é o Riders for Health, desenvolvido na Zâmbia. Trata-se de um sistema de couriers especializados no transporte de materiais (sangue, urina etc.) coletados de pacientes em postos de saúde dispersos pelo interior do país até os laboratórios situados nas cidades. O sistema foi criado a partir da constatação da ineficiência e precariedade do atendimento de saúde pública no país.

"Os centros de saúde locais estão longe dos laboratórios de diagnósticos, com serviços que não são facilmente acessíveis por causa do terreno, da falta de pessoal e de transporte disponíveis", diz o texto de divulgação do projeto. "Isso dificulta a detecção e o tratamento da doença e, no caso de doenças altamente infecciosas como a tuberculose, pode colocar toda uma comunidade em risco de infecção. Além disso, muitas vezes há alta incidência de rejeição da amostra em razão de danos sofridos a partir de longo trânsito em recipientes improvisados, como sacos plásticos. Isso significa que os pacientes muitas vezes voltam aos centros de saúde (às vezes uma viagem de várias horas, a pé) para receber seus resultados apenas para encontrá-los indisponíveis."
A solução encontrada foi criar a rede de mensageiros. Eles passam por três semanas de treino em condução segura, cuidado das motocicletas e manipulação de materiais bioperigosos e recebem mochilas especialmente concebidas para que as amostras não sejam danificadas pelo calor e pelas vibrações em trânsito.
Da Zâmbia o serviço foi exportado para Lesoto, Malaui e Zimbábue e até o momento está servindo 335 centros de saúde e 33 laboratórios com cerca de 50 mensageiros. Os centros de saúde participantes relatam uma notável redução na rejeição da amostra, que era alta anteriormente por causa das falhas na coleta e entrega. "O objetivo principal do nosso programa é aumentar a regularidade e a confiabilidade de coleta de amostras e entrega de resultados, de forma a garantir diagnóstico oportuno e tratamento adequado", dizem os organizadores.
Os 5 vencedores entre os 60 finalistas do Index 2013 serão conhecidos na última semana de agosto, em uma cerimônia em Copenhague. Cada um deles receberá ? 100 mil.


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