Peter Zumthor: sete observações pessoais sobre "Presença em Arquitetura"

peter_zumtur_photo-yael_engelhart_for_haaretz                                                                                                                                                            Zumthor em Tel Aviv. Imagem © Yael Engelhart for Ha'aretz

Conhecido por sua qualidade incomparável perícia, o laureado do Pritzker 2009 e vencedor da Medalha de Ouro do Prêmio RIBA em 2013, Peter Zumthor, foi recentemente convidado a palestrar na Escola de Arquitetura da Universidade de Tel Aviv. Em uma palestra intitulada "Presença em Arquitetura - Sete Observações Pessoais", Zumthor compartilhou algumas das inspirações por trás de seus maiores projetos, dando-nos uma visão sobre sua atmosfera poética, mental, e (alguns podem dizer) "quase divina".

Os Sete Pontos de Zumthor sobre "Presença", a seguir...

1: Primavera 1951

"Era um dia lindo. Não tinha escola. Deve ter sido no início da primavera - eu podia sentir o cheiro [...] Lembro-me de correr como um menino, e tinha essa leveza e elegância que eu não tenho mais. "

Zumthor, filho de um marceneiro, nasceu em 1943, começou por relatar uma experiência seminal de sua infância: "Eu não sabia disso na época, mas como um homem velho agora, olhando para trás, percebo que esta foi a minha primeira experiência de presença." Como ele define:" A presença é como uma lacuna no fluxo da história, onde subitamente deixa de ser passado e não é futuro."

Studi             Zumthor Studio. Imagem © Felipe Camus

Como a presença pode ser traduzida ou alcançada na arquitetura? Esta questão é um motivo fundamental no atelier de Zumthor na região suíça de Graubünden. Fundado em 1979, seu estúdio se localiza no vale do Reno, onde muitas de suas obras seminais - que vão desde projetos de pequena escala, tais como reformas de casas e capelas de vila, até larga escala, como museus monumentais - foram construídas. Zumthor propositadamente mantém seu ateliê neste humilde e remoto local, a fim de garantir a sua experiência de "presença": "De vez em quando, eu tenho esse sentimento de presença. Às vezes, em mim, mas definitivamente nas montanhas. Se eu olhar para estas rochas, as pedras, eu tenho uma sensação de presença, do espaço, do material."

2: Como uma árvore

"Eu olho para uma árvore e ela não me diz nada". Uma árvore, de acordo com Zumthor, é um objeto digno de seu fascínio e admiração, devido à sua falta de presunção: "A árvore não tem uma mensagem; a árvore não quer me vender alguma coisa. A árvore não me dirá - "olhe para mim, eu sou tão bonita, eu sou mais bonita do que as outras árvores." É apenas uma árvore - e é bela." Para ele, uma árvore é um ser puro de presença obsoleta, em seus termos simples: "Nada de especial - incrivelmente poderoso."

Serpentine_gallery_pavilion_2011__designed_by_peter_zumthor._photo_by_john_offenbach              Pavilhão Serpentine por Peter Zumthor. Imagem © John Offenbach

3. Construindo a presença na arquitetura: primeira tentativa - Pura Construção

Zumthor lembra de um concurso em 1993 para projetar um museu e o centro de documentação do Holocausto, o Museu da Topografia do Terror, localizado na antiga sede da Gestapo em Berlim. Ele descreve as dificuldades de criar arquitetura nesse local historicamente tão carregado: "Tudo o que havia acontecido veio em minha mente. [Foi] um centro para a destruição [...] Eu não posso fazer nada aqui. [...] Como é possível encontrar a forma?"

Ao invés de fazer uma declaração polêmica em negrito, como muitos de seus colegas arquitetos fariam, Zumthor decide traduzir sua incapacidade de reagir ao local retendo-se a metáforas arquitetônicas e simbolismo. Ele decide projetar um edifício "sem significado, sem comentários" ao inventar um edifício de construção pura.

Topographie-des-terrors-model-drawings-01             Maquete do Museu A Topografia do Terror de Zumthor. Imagem © Zumthor Tublr

Embora o projeto de Zumthor tenha sido escolhido como o vencedor do concurso, a construção foi suspensa em 1994 e o núcleo de concreto descoberto ficou vazio por um década. Quando o financiamento foi recuperado, mudanças políticas demandaram um novo concurso de arquitetura, o que levou à destruição do museu inacabado de Zumthor. Embora o edifício tenha sido demolido, a ideia para o memorial inspirado na construção não foi.

"As idéias nunca são perdidas. De certa forma, depois de encontrar alguma coisa, como um arquiteto, você sempre poderá pensar sobre isso novamente. "

Andrew_meredith             Memorial Steilneset. Imagem © Andrew Meredith

O conceito foi revisitado por Zumthor ao projetar o Memorial Steilneset na Noruega, um memorial para os ensaios da Finnmark Witchcraft do século XVII. O Memorial, "um edifício sem sentido que não fez nenhum comentário," era uma estrutura semelhante a um andaime composto por estruturas de madeira pré-fabricadas, construída como um sistema binário de "vazios e vigas" que englobavam uma estreita passagem interna.

4. "Construindo a presença em arquitetura: segunda tentativa - a epítome de uma cozinha

Ou: Faça-o típico, e então se tornará especial"

"'Parece bonito, mas é difícil de usar" - este é um arquiteto típico. "

Ele conta a história de um estúdio onde uma vez que lecionou, onde a missão era ser não-especial: "Vamos nos mostrar típicos," ele disse aos seus alunos, e acrescentou: "Isto provava o fato de que quando você faz algo realmente típico, este se torna especial."

Felipe_camus2             Capela Saint Benedict. Imagem © Felipe Camus

5. Construindo a presença em arquitetura: terceira tentativa - Forma segue qualquer coisa.

Ou: O corpo da arquitetura

"Para mim, a arquitetura não trata primeiramente da forma, não mesmo."

"Forma Segue Qualquer Coisa" era o título de um simpósio que Zumthor participava cerca de vinte anos atrás. "Eu acho que é um ótimo título [...] a arquitetura pode ser usada para fazer qualquer coisa. [...] A forma é aberta."

Vals             Foto do interior de Therme Vals. Imagem © Helene Binet

Enquando Zumthor apresenta o próximo slide, o público suspira - é uma imagem interna do que talvez seja seu projeto mais famoso e elogiado até à então, as Termas de Vals.

"Nós, na verdade, nunca falamos sobre forma no escritório. Falamos sobre construção, podemos falar de ciência, e falamos de sentimentos [...] Desde o início os materiais estão lá, ao lado da mesa [...] quando colocamos os materiais juntos uma reação começa [... ] trata-se de materiais, trata-se da criação de uma atmosfera, e trata-se da criação de arquitetura."

No caso do Vals, os materiais utilizados foram um misto de pedras extraídas localmente, junto com pedras italianas: "Confie em seus materiais." Após os longos sete anos do processo de concepção do Vals, ele pode dizer alegremente: "Eu descobri que a pedra e água têm uma relação de amor. "

6. Construindo a presença em arquitetura: quarta tentativa - A casa sem forma

Samuel_ludwig              Capela Brauder Klaus Field. Imagem © Samuel Ludwig

Enquanto lecionava na Universidade de Harvard, Zumthor deu a seus alunos a tarefa de projetar "A casa sem forma," para alguém com quem eles compartilham uma relação emocional íntima. Eles deveriam apresentar o projeto, sem plantas, cortes ou maquetes. O objetivo era inspirar um novo tipo de espaço, descrito por sons, cheiros e descrição verbal: "Quando eu olho para este tipo de casa sem forma, o que mais me interessa é o espaço emocional. Se um espaço não me comove, então eu não estou interessado [...] Eu quero criar espaços emocionais que te comovam."

7. Construindo a presença em arquitetura: quinta tentativa - Kim Kashkashian toca a Sonata nº2 em mi bemol para violino e piano de Johannes Brahms

"Eu me lembro quando ouvia esta peça. [...] Depois de um fragmento de um segundo, eu estava dentro dela. A música tem essa capacidade de atingir diretamente o seu coração, muito mais do que a arquitetura. Para mim, a música pode mudar a química dentro de você. "

Zumthor termina sua palestra com a importância da "impressão sem palavras" de diferentes encontros com a música, a arte, a arquitetura e as pessoas:

"Em um fragmento de um segundo você pode entender: Coisas que você sabe, coisas que você não sabe, as coisas que você não sabe que você não sabe, conscientes e inconscientes, coisas as quais em uma fração de um segundo você pode reagir: todos nos perguntamos porque essa capacidade nos foi dada como seres humanos - acho que para sobreviver. A arquitetura para mim tem o mesmo tipo de capacidade. Leva mais tempo para capturar, mas a essência para mim é a mesma coisa. Eu chamo isso de atmosfera. Quando você experiencia um edifício e ele fica com você. Ele fica na sua memória, em seus sentimentos. Eu acho que é isso que eu estou tentando fazer."

Ele faz uma pausa: "Há algo maior no mundo do que você."

Fonte:Merin, Gili. "Peter Zumthor: sete observações pessoais sobre "Presença em Arquitetura"" [Peter Zumthor: Seven Personal Observations on Presence In Architecture ] 13 Dec 2013. ArchDaily. (Costa, Isabela Trans.) Accessed 14 Dez 2013.  http://www.archdaily.com.br/br/01-159418/peter-zumthor-sete-observacoes-pessoais-sobre-presenca-em-arquitetura?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=df2d2bbfa9-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-df2d2bbfa9-407774757

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