Miguel Pereira o eterno militante controverso

O corpo docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, organizou uma homenagem ao arquiteto Miguel Pereira, falecido no último dia 15 de maio. Miguel Pereira participou intensamente na reestruturação da  FAU - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo durante o regime militar, tendo um papel fundamental na elaboração do projeto pedagógico para a instituição. A última homenagem ocorreu há dois anos, quando a FAU completou 50 anos, e contou com a presença dele participando ativamente dos debates sobre a reformulação do currículo e o projeto pedagógico do curso. Nesta quarta-feira (28), a deferência teve ares de lembranças e saudades no Ceplan – Centro de Planejamento Oscar Niemeyer da UnB.


A homenagem surgiu como forma de registrar a história da FAU e mensurar a figura ilustre de um homem que construiu a profissão da arquitetura. Ele foi presidente do IAB Nacional, além de ter uma longa trajetória de militância para a constituição das organizações profissionais dos arquitetos e do ensino da arquitetura.
De acordo com o coordenador do curso de arquitetura e urbanismo da UnB, José Manuel Morales Sanches, a carreira e a importância do arquiteto não podem ser resumidos, mas uma frase pode ser citada, dada a importância dele para a FAU e para o profissionalismo: " há dois anos atrás pude presenciar um discurso público firme, incisivo e lúcido, mas com a fala pessoal afável e persuasiva. Ele era uma pessoa que envolvia e motivava aos demais. Pessoalmente foi a essa convivência que nos motivou a importância de prestar essa homenagem".
O evento contou com a presença do presidente do CAU/DF, Alberto de Faria, do presidente do IAB-DF, Thiago Andrade, do professor José Carlos Coutinho, da professora Claudia Amorim, vice-diretora da FAU, compondo a mesa, e na plateia mais de 60 pessoas entre alunos e professores. 
A professora Claudia Estrela Porto entende que o esforço de Miguel Pereira foi de grande importância para a instituição, pois a faculdade apenas foi retomada com a força dele. "É importante o evento para reavivar, resgatar a memória de uma pessoa tão importante para a arquitetura, ele foi o primeiro diretor a formular um projeto pedagógico durante a ditadura militar". 
No início da homenagem foi apresentada uma entrevista com Miguel Pereira, onde ele aborda a importância, a beleza e os simbolismo da FAU para Brasília e para o Brasil. Em um trecho da entrevista ele chama a atenção por falar do apoderamento da Capital. No entendimento dele, Brasília é um cadinho: "Brasília teve uma ocupação extraordinária, pois temos a amostragem das várias culturas do Brasil em um único espaço". 
A professora Claudia Amorim durante o discurso informou que o intuito da homenagem é chamar a atenção dos alunos sobre a história que a Faculdade presenciou, seja na valorização e na preservação do espaço. "A FAU tem beleza e a contribuição de vários nomes, como Oscar Niemeyer, Lelé, entre outros". 
O presidente do CAU/DF, Alberto de Faria, agradeceu o convite de participar da mesa, por ser um momento importante e especial. Ele ressaltou que a FAU é um lugar marcante, relembrou a participação de Miguel Pereira nas  entidades profissionais, tanto no  IAB como no CAU/BR, já como conselheiro. O presidente Alberto de Faria destacou também as duas principais características que Miguel Pereira tinha: " a primeira era de dar atenção aos curiosos, gostava de dar aulas e de saciar a curiosidade. A segunda, já é uma característica mais forte, a de ser inconformista com as regras. Ele dizia que o essencial é o importante, as regras não podem tolher o discurso, é uma lembrança dele que ficará comigo".
Ainda segundo o presidente, Alberto de Faria, Miguel esteve presente em todos os debates e esforços para que os arquitetos tivessem uma representação própria. A militância dele iniciou nos anos 50. Ele questionava à época pela desvinculação da categoria ao CREA, criticava que um sistema multiprofissional e majoritário. Solicitava em debates pela criação de um conselho próprio, com legislação própria. "Ele teve uma participação fundamental na redação nos trechos de leis, na avaliação e na discussão das mesmas. Depois de meio século, em 31/12/2010, às 18h15 a lei foi promulgada. Ele colocou sua inteligência e a capacidade de articulação política para ajudar a criar uma organização própria da profissão.
História
O professor da FAU, José Carlos Coutinho, relembrou com a voz embargada das características de Miguel Pereira. Salientou que Miguel era controverso e de personalidade forte. Levantava muitas discussões, conflitos saudáveis e debates para um novo processo pedagógico. "Éramos inspirados pela liderança forte de Miguel, ele injetava entusiasmo no movimento estudantil".
Tudo começou com o golpe militar, em 1965, quando aproximadamente 200 professores da UnB se demitiram, o motivo foi gerado por uma crise surgida pelo assédio da ditadura militar. O governo intitulava o grupo de pensadores como muito perigoso para o regime. Após as demissões, logo foi criado um vácuo na Universidade, principalmente da arquitetura.
Em 1967, os estudantes declararam greve, dada a decadência que a instituição sofria. Os alunos foram pedir ajuda ao IAB - Instituto de Arquitetura do Brasil, na época, a coordenação da comissão de educação era de Miguel Pereira.
No ano seguinte, Miguel Pereira realizou um seminário com propostas para renovar o curso de arquitetura. Foram enviados professores de outros estados, como uma forma paliativa de ajudar os alunos, mas não teve êxito. Por ter uma personalidade forte e ser um líder controverso, Miguel foi chamado para assumir a direção da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo em 1969, saindo apenas em 1975 para dar continuidade ao exercício da profissão. Lembrou a participação dos estudantes, na figura do arquiteto José Prates. 
Mesmo após a saída, ele sempre visitou a FAU para contribuir e dar atenção. O professor Coutinho encerrou seu discurso com lágrimas ao falar do amigo: "Miguel é uma figura permanente e muitos que estão aqui devem a ele. Quero registrar a minha gratidão pela nossa amizade e pela nossa militância".  Ainda falaram os professores Érico Wiedle, Ricardo Farret e Frederico Holanda.

Fonte: http://www.caudf.org.br/

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