A culpa é da Arquitectura!

 O impacto da arquitectura na economia das cidades

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            Por ArchReady - 20/out/2014

O que pode tornar uma cidade atractiva?

Nas cidades existem diversos factores mais ou menos atractivos que podemos ter em conta, como: as pessoas, a arquitectura, o clima, a história, a arte, a música, a gastronomia ou mesmo certo tipo de eventos sazonais que atraem os visitantes.

Por vezes, não é possível destacar apenas um destes factores pois a valorização da cidade surge da forma como diversos elementos coabitam no mesmo espaço.

Barcelona é um bom exemplo de uma cidade atractiva pelo seu conjunto, é impossível referir apenas um aspecto como base do seu desenvolvimento e impacto a nível mundial. Ali parece que tudo coabita na perfeição e nota-se uma interdependência de diversos elementos no caminho do sucesso.

Mesmo perante todos estes factores, existe um que nunca podemos descurar: a Arquitectura. Ela está, indiscutivelmente, presente em todas as cidades e faz parte integrante da sua identidade. É impossível olhar para uma cidade e não avaliar a sua arquitectura, o seu espaço urbano, os seus edifícios.

Em muitos casos distinguimos facilmente um edifício como ex-libris de uma cidade: a Ópera em Sidney, o Empire State Building em Nova Iorque, o Big Ben em Londres… entre muitos outros casos.

Para além destes exemplos, existem alguns casos específicos, por vezes surpreendentes, capazes de transformar uma cidade.

Barcelona | Imagem via Wikimedia Commons

Poderá um só edifício mudar uma cidade?

O caso de Bilbau é um exemplo fascinante de uma cidade cujo processo de revitalização se debruçou num edifício, como marco arquitectónico.

De uma região fortemente industrializada a partir do século XIX, com acentuada explosão demográfica e urbanística, começa a perder o seu carácter industrial para se tornar uma cidade de serviços, assente num desenvolvimento estético, social e económico.

O Museu Guggenheim, desenhado pelo arquitecto Frank Gehry, constituiu um grande impulso para a cidade a vários níveis, particularmente no crescimento do turismo, com reflexo na estética e economia da cidade.

Podemos dizer que o Museu Guggenheim serviu de mote a um estilo de arquitectura contemporânea que se espalhou pela cidade, não só ao nível dos edifícios como dos arranjos urbanísticos, segundo uma estética muito própria e muito coerente em todo território.

É incrível a mudança que uma cidade pode sentir por vínculo de um edifício, neste caso… a culpa é da Arquitectura!

Museu Guggenheim em Bilbau | Frank Gehry | Imagem via Wikimedia Commons

Poderá um choque arquitectónico tornar-se uma obra emblemática e um ex-libris da cidade?

Um bom exemplo a referir é o famoso Museu do Louvre em Paris. Este grande monumento gerou enorme controvérsia aquando da construção da pirâmide de vidro no centro do pátio do palácio. Aos olhos de muitos, erguer uma peça tão futurista abraçada a um edifício histórico de tão elevado valor emblemático seria um choque de estilos, um atentado estético à obra de arquitectura clássica, sobrepondo-se a ela e desvalorizando-a.

Contra muitas críticas, o projecto do arquitecto I. M. Pei avançou, fazendo com que o museu reorganizado reabrisse em 1989.

O certo é que mesmo os mais cépticos acabaram por se render e a polémica pirâmide de vidro acabou por ser um sucesso, atraindo um sem fim de visitantes e tornando-se um ex-libris da cidade.

Mais uma vez, a culpa é da Arquitectura!

Pirâmide do Museu do Louvre em Paris | I. M. Pei | Imagem via Wikimedia Commons

Poderá um erro de construção valorizar um edifício ao ponto de o tornar um ícone?

A resposta mais imediata a esta questão será negativa, conotando até um certo sentido cómico na interrogação. No entanto, se repensarmos este caso, verificamos que talvez não seja uma pergunta tão bizarra, tendo como exemplo o caso de Pisa.

Pisa é uma comuna italiana na região da Toscana que, à semelhança de outras cidades italianas, contou com a construção de uma torre ou campanário da catedral na sua praça central. Embora destinada a ficar na vertical, a torre começou a inclinar-se logo após o início da sua construção em 1173, devido a insuficientes fundações sobre o solo fraco e instável. Entre os anos de 1990 e 2001 contou com um reforço estrutural para garantir a sua estabilidade, mas salvaguardando sempre a sua inclinação.

Quanto ao arquitecto autor desta obra geram-se controvérsias, atribuindo inicialmente o projecto a Guglielmo e Bonanno Pisano e especulando-se posteriormente a autoria do projecto a Diotisalvi.

Foi, sem dúvida, a inclinação da torre que ao longo de anos tem trazido tantos visitantes à cidade com um número infindável de fotografias que circulam pelo mundo e tornam este monumento num marco arquitectónico a não perder em Itália.

Nas últimas obras de reforço da estrutura, a preocupação era preservar a inclinação da torre, pois de outra forma perderia o seu sentido atractivo, com repercussão na visibilidade e economia da cidade.

Pisa tem vindo a conquistar grande parte do seu poder económico através das receitas do turismo, com grande impulso na sua torre inclinada, já considerada Património Mundial da UNESCO, juntamente com a catedral vizinha, o baptistério e o cemitério.

Este fenómeno é sui-generis e mostra o impacto que a arquitectura poderá ter no desenvolvimento de uma cidade, definitivamente… a culpa é mesmo da Arquitectura!

Torre de Pisa | Imagem via Wikimedia Commons

Erros construtivos, choques arquitectónicos, edifícios singulares, entre outros, são fenómenos que podem alterar a economia de uma cidade e na base deles está a Arquitectura.

Actualmente, já se nota um reconhecimento por parte das pessoas e também dos responsáveis das cidades pelo papel que a Arquitectura tem no crescimento e desenvolvimento dos centros urbanos, com fortes reflexos nos fluxos migratórios e turísticos e consequentemente na economia das cidades.

A Arquitectura não vive sem as cidades e as cidades dependem directamente da Arquitectura para o seu desenvolvimento. É importante ter a consciência desta relação por forma a compreender o crescimento económico de muitos centros urbanos.

A Arquitectura é culpada do sucesso das cidades… e as cidades agradecem!

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