A estrutura do Masp, de Lina Bo Bardi

Por Marcelo Suzuki e Roberto Rochlitz

Edição 249 - Dezembro/2014

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O Masp é um conjunto sofisticado de projetos - urbanístico, arquitetônico, estrutural e de instalações - extremamente coesos que resultam em uma imagem vigorosa, afirmativamente simples. Chegar ao Masp provoca um imediato bombardeio de sensações em sinestesia, comuns a todos, arquitetos ou não. A essas fortes impressões, soma-se a dimensão simbólica, na qual o Masp e seu sítio tornaram-se a grande referência pública para as reuniões abertas, a ágora da São Paulo de hoje, sem dúvida.

A imagem que o conjunto transmite imediatamente é a de uma grande caixa pendurada em duas traves vermelhas, que deixa abaixo o grande vão, o popular "vão livre do Masp".

Mas para compreender verdadeiramente a estrutura é preciso conhecer outra dupla de vigas: as internas à caixa suspensa e que são muito mais sobrecarregadas do que as visíveis vermelhas. As quatro vigas são protendidas por um sistema de protensão criado pelo engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, professor da Escola Politécnica e da FAU, ambas da USP, sistema diferente do comercialmente mais bem-sucedido Freyssinet, empregado no mundo todo.

A dupla de cima suporta a carga da cobertura do prédio, o que não é pouco, mas que não tem usos ou sobrecargas, enquanto as vigas internas suportam as cargas de dois andares inteiros - cada um com 2 mil m² de área útil, com cargas que somam arquivos, pessoas que trabalham ou visitam o prédio, o acervo que tem até esculturas maciças em mármore que ora podem estar expostas em um local e ora em outro etc. São os níveis +14,40 e +8,40.

A dupla de vigas principais, portanto, são hipercarregadas. Elas resistem a uma carga de 30 tf/m, ambas vencendo um vão de 70 m. O momento na viga, no centro do vão, é de 20 mil tf x m ou 20 mil tfm. Equivale ao momento que uma alavanca, com 20 tf na extremidade, provocaria no seu apoio a 1 km de distância.

Um grande desafio como este só seria resolvível com um grande projeto de arquitetura absolutamente amalgamado a um belíssimo projeto de engenharia. Junção rara, que constitui a verdadeira história da Arquitetura (com A maiúscula). Foi uma obra com muitos percalços e entraves que demorou dez anos para ser concluída.

As vigas principais protendidas são biapoiadas - isostáticas - em consoles salientes que partem dos pilares para dentro do prédio e, embora grandes, são quase imperceptíveis aos visitantes. Foram executadas antes do que o nível +8,40, que foi feito depois, "pendurado" nas vigas.

A protensão das vigas demorou várias semanas: protendia-se um pouco a cada dia e eram centenas de cabos. Até atingir a compressão estipulada para cada viga, era necessário injetar nata de cimento em cada bainha que envolve os cabos. A protensão causou um encurtamento das vigas em cerca de 5 cm. O encurtamento das vigas ocorria com liberdade durante as etapas de protensão, pois sobre os consoles foi instalada, internamente à junta de neoprene, uma bolsa - também de neoprene - que se enchia de óleo a cada etapa e se esvaziava entre as etapas. Atingida a compressão requerida, esvaziou-se a bolsa e a viga apoiou-se definitivamente nos consoles, separada apenas pela junta de neoprene.

No sistema Ferraz, a protensão é executada por um lado apenas, e nas quatro vigas a protensão foi feita no lado Paraíso (sentido Sudeste) do edifício. Nesse lado do Masp, a dupla de vigas da cobertura tem movimentos horizontais - causados por dilatações e possíveis movimentações de conjunto. Liberados internamente aos pilares, existem pêndulos que deixam as vigas se movimentar horizontalmente.

MARCELO SUZUKI é arquiteto, professor-doutor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo IAU-USP, e trabalhou com Lina Bo Bardi

ROBERTO ROCHLITZ é engenheiro civil, foi coordenador dos projetos e engenheiro fiscal da obra do Museu de Arte de São Paulo (Masp) de 1964 a 1968

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Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/249/a-estrutura-do-masp-de-lina-bo-bardi-333984-1.aspx

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