Como fazer a avaliação pós-ocupação

Por Juliana Nakamura
Edição 237 - Dezembro/2013

Ensinada nos cursos de graduação, mas nem sempre exigida pelos contratantes de projetos de arquitetura, a avaliação pós-ocupação (APO) é um conjunto de métodos e técnicas que visam a mensurar o desempenho de edificações em uso, levando em consideração não somente o ponto de vista do arquiteto mas também o grau de satisfação dos usuários.
A avaliação apresenta como princípio o fato de que os edifícios e os espaços livres em uso, independentemente de sua função, devem estar sujeitos a permanente avaliação. "Trabalhar essa avaliação pós-obra é fundamental, quer seja para garantir a melhoria contínua do resultado, quer seja para atender a normas técnicas", afirma a arquiteta Maria Fernanda Silveira, presidente da Associação Brasileira de Gestores e Coordenadores de Projetos (Agesc) e sócia do escritório Carvalho e Silveira Arquitetura.

HISTÓRICO
Quando bem realizada, a APO pode gerar diagnósticos para fundamentar recomendações e intervenções no edifício, além de fornecer informações importantes para respaldar projetos similares no futuro. Em países como Estados Unidos, França, Inglaterra e Japão, esse tipo de avaliação é entendido como instrumento de realimentação do processo de desenvolvimento de projetos há pelo menos quatro décadas.
Já no Brasil, a APO vem sendo incorporada gradativamente nas práticas de construtoras, gerentes de facilidades e escritórios de arquitetura, sobretudo após a promulgação do Código de Defesa do Consumidor no início da década de 1990 e, mais recentemente, com a entrada em vigor da ABNT NBR 15.575 - Edificações residenciais - Desempenho. "Apesar disso, ainda são raras as oportunidades que temos para realizar a avaliação pós-ocupação, pois isso demanda um honorário que quase sempre o cliente não está disposto a pagar", lamenta o arquiteto Guilherme Mattos, do escritório Arquitetura Contemporânea.

LADO TÉCNICO
Para averiguar os problemas existentes nos edifícios, a avaliação pós-ocupação se apoia em análises técnicas e comportamentais. Qualquer ambiente construído, independentemente da complexidade ou escala, é passível de avaliação. No entanto, na maioria das vezes, a APO só é adotada em projetos de média e alta complexidade, como hospitais, escolas, aeroportos e indústrias, além de conjuntos residenciais com elevado grau de repetição e também interiores corporativos.
Um instrumento importante em uma análise é o as built. Trata-se de uma ferramenta de verificação das condições atuais do edifício e sua relação com o projeto original. O as builtserve para detectar possíveis mudanças realizadas durante a execução da obra ou mesmo pelos próprios usuários e costuma ser aplicado a partir de vistorias realizadas em todo o edifício, tendo como base plantas e cortes extraídos do projeto original.

O USUÁRIO
De acordo com a arquiteta Sheila Walbe Ornstein, professora da FAUUSP e coorganizadora do livro Qualidade ambiental na habitação - avaliação pós-ocupação, quanto mais complexo for o ambiente em uso, no sentido de ter que abrigar uma série de atividades envolvendo uma gama muito distinta de usuários, mais importante é entender o comportamento desse usuário para preservar questões como a funcionalidade, segurança, acessibilidade e adequação do ambiente.
As entrevistas com usuários trazem opiniões a respeito do nível de satisfação com o projeto arquitetônico, em geral utilizando um questionário com perguntas objetivas, cujas respostas devem variar entre diferentes níveis qualitativos (por exemplo, ótimo, bom, regular, péssimo e precário). "Como você avalia o espaço em relação à entrada de ruídos externos?" ou "Como você avalia o ambiente quanto à iluminação natural?" são algumas das perguntas indispensáveis nesse tipo de questionário.
Em situações específicas, a avaliação pode exigir adaptar a forma de obter informações do usuário. Isso acontece muito em hospitais e em escolas de educação infantil, onde, em vez de utilizar uma escala numérica ou de valores, uma estratégia válida é solicitar aos entrevistados manifestarem suas opiniões por meio de desenhos.

O que compõe avaliação pós-ocupação

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ANÁLISE ESPECIALIZADA
Em obras de pequeno porte, como residências, as avaliações pós-ocupação podem ser simplificadas e envolver um questionário simples, realizado com todos os usuários ou com uma amostragem pré-definida. Já nas de grande porte, com múltiplos usuários, a APO pode exigir a adoção de metodologias de diagnóstico mais sofisticadas e a contratação de técnicos especializados (para avaliar a estrutura, por exemplo). O trabalho normalmente demanda a realização de testes e cálculos com o uso de equipamentos como luxímetros para medição das condições lumínicas e decibelímetros para medição de níveis de pressão sonora.
"Desde que a NBR 15.575 passou a vigorar em 2013, as avaliações pós-obra dos projetos não podem ser mais empíricas para os itens descritos na norma, como aqueles relacionados aos de conforto térmico, lumínico, acústico, segurança estrutural, proteção contra incêndio, condições de uso e ocupação, funcionalidade e acessibilidade, estanqueidade à água e durabilidade", reforça a arquiteta Maria Fernanda Silveira, pois a nova norma estabelece requisitos e critérios de desempenho considerando as exigências do usuário.

QUANDO FAZER
A periodicidade de realização de uma APO varia em cada caso. Em geral, é indicada sempre que há uma mudança drástica de uso ou uma reforma. "No nosso escritório, sempre que requisitados, acompanhamos o cliente ao longo da ocupação da obra construída, visando a uma parceria de reconhecimento do valor do trabalho e a necessidade de preservá-lo devidamente", revela Guilherme.
O arquiteto lembra que fazer a avaliação é benéfico não só para a saúde da obra, mas também ao próprio projetista, pois ela é a oportunidade para observar como cada material e sistema especificado se comportou, até mesmo para redefinir seu aproveitamento em outros projetos.

Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/237/como-fazer-a-avaliacao-pos-ocupacao-302156-1.aspx

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