Oscar Niemeyer - Um arquiteto e quatro fases

por Carlos Eduardo Comas

Edição 226 - Janeiro/2012

 

Mais de 80 anos de trabalho, entre consagração e polêmica

1907/2012

1937

Creche da Obra do Berço, Rio de Janeiro

1940

Grande Hotel de Ouro Preto, MG


1942/44

Croquis do conjunto da Pampulha, Belo Horizonte

A vida é breve, a arte vasta, a oportunidade fugaz, o experimento perigoso e o juízo difícil, já dizia Hipócrates. E o que vale para a medicina vale também para a arquitetura. Claro, nem todas as vidas são igualmente breves. Oscar Niemeyer, centenário, trabalhou mais de 80 anos. Periodizações são sempre complicadas, mas cabe distinguir quatro fases na sua obra, a partir do apreço de seus contemporâneos: expectativa e ascensão (1930/1950), consagração e contestação (1950/1970), marginalização e defensiva (1970/1990), resgate e reavaliação (1990/2012).

A primeira fase arranca da guinada moderna que Lucio Costa dá à Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), onde Niemeyer estuda (1929/1934). Desenhista no escritório de Lucio e Gregori Warchavchik (1931/1933), integra depois a equipe de projeto do Ministério da Educação que Lucio chefia (1936/1945). O primeiro projeto construído é a creche da Obra do Berço, no Rio de Janeiro (1937). O elogiado Pavilhão Brasileiro da Feira Mundial de Nova York (1939), parceria com Lucio, lhe vale o encargo pelo Sphan do Grande Hotel de Ouro Preto (1940). Compensando a derrota no concurso do Centro Atlético Nacional (1941), chega o encargo por Juscelino Kubitschek, prefeito, do conjunto da Pampulha (1942) em Belo Horizonte, atração em Brazil Builds, a mostra no MoMA de Nova York (1943).

A conexão norte-americana já incluía a casa Johnson (1942) em Fortaleza. Institucionalmente, cresce com a atuação decisiva no projeto da ONU (1947), paralelamente à vitória no concurso do campus do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos, SP. Domesticamente, cresce com o projeto da casa Tremaine na Califórnia (1948). Destaque em Painting toward architecture (1948), de H-R. Hitchcock, tem mostra no MoMA, From Le Corbusier to Niemeyer. Savoye House 1929 - Tremaine House 1949, e a monografia de S. Papadaki, The work of Oscar Niemeyer (1950).

O ingresso no PCB (1945) não afeta o encargo do Banco Boavista carioca (1946), nem a admiração norte-americana por sua obra. A difusão europeia inicia com mostras e publicações em Londres (1944) e Paris (1947) apoiadas pelo Itamaraty e com ciumeira corbusiana explícita. Outra ciumeira, paulistana, leva Lucio a clamar que Niemeyer, novo Aleijadinho, expressa o gênio nacional (1948), promovendo a discutível identificação da arquitetura do colega com a arquitetura moderna brasileira e o barroco colonial.

De fato, Niemeyer é figura-chave de um grupo carioca que começa a atuar em plena depressão, quando política, economia e tecnologia desacreditavam as teses do racionalismo ortodoxo de 1920, forçando a arquitetura moderna (minoritária) a requalificar os laços com a máquina e a superar as limitações de um estilo internacional, mantendo como fundamento a redução dos elementos construtivos à sua geometria essencial e, como norma, o esqueleto independente com lajes planas paralelas em balanço. Na defesa de uma arquitetura moderna inclusiva, como queria Lucio, Niemeyer amplia seu vocabulário e sua sintaxe, demonstrando que pode atender a uma diversidade de demandas de programa e situação, funcionais ou representativas. Alinhado com as realizações de ponta da primeira metade dos anos de 1930, Niemeyer as complementa, expande e às vezes contradiz, com plena compreensão da ambição sistêmica da obra corbusiana e da amenidade do clima brasileiro. O resultado foi saudado como modernismo regional, tropical ou nacional em função da curva livre, dos dispositivos de controle solar e do pilotis aberto - não sem alguma incorreção, considerando a ubiquidade das curvas nos anos de 1930, o efeito estufa das fachadas de vidro nos verões parisienses e a presença de pórticos, alpendres e galerias em diferentes latitudes. Aliás, a arquitetura vernácula é só uma das muitas fontes de Niemeyer no período, assim como a natureza estilizada diretamente, o repertório pitoresco convencionalmente orgânico e suas derivações expressionistas.

Certo, sua obra se opõe a um modernismo produtivista. A manipulação conjunta ou separada de geometrias retilíneas e curvilíneas ressalta entre múltiplas expressões de ambivalência, com insinuações ora clássicas, ora barrocas. A multiplicação de volumes, texturas e técnicas construtivas traz exuberância, apoiada pela extroversão térrea do mecanismo da planta livre. A penetração da base edificada por rota pública ou semipública cria porosidade. Em conjunto, essas características sugerem um modernismo epicurista no sentido estrito, que não é sensualidade desregrada e extrapola amplamente qualquer evocação banal de brasilidade. Inscrita na reflexão genérica sobre a arquitetura, a cor local dispensa o folclore. A reflexão inclui tratar o chão limitado pelo pavimento e/ou jardim como elemento básico da arte, com tudo o que isso implica de transformação da natureza.

A atenção ao espaço aberto público é consequente, especialmente notável no conjunto da Pampulha: o foco dessa atualização do parque de circuito pitoresco é uma enorme praça líquida, ao longo da qual gravitam praças verdes e secas onde se implantam os vários edifícios. De outro lado, fiel à tradição acadêmica, Niemeyer prioriza a caracterização apropriada da diversidade de programas que enfrenta, em termos de atmosfera e de linhagem. A expressão de modernidade se assenta na tradição disciplinar ocidental. A severidade dórica do Ministério contrasta com a elegância jônica do Pavilhão, a simplicidade toscana do Grande Hotel com o luxo coríntio do Cassino da Pampulha; as bases edificadas com colunatas colossais e vazio central declinam, com economia de meios, diversas gradações de monumentalidade, da mais formal à mais rústica. A gama expressiva é vasta, e pouco tem a ver com lirismo como declaração de sentimentos pessoais. Na circunstância excepcional dos anos de 1940, abalados por guerra quente, a obra de Niemeyer tem papel substantivo e acatado.

 
 

1949/1952

Sede da Organização das Nações Unidas (ONU),
Nova York, Estados Unidos

1952

Conjunto JK, Belo Horizonte, MG

De fato, Niemeyer é figura-chave de um grupo carioca que começa a atuar em plena depressão, quando política, economia e tecnologia desacreditavam as teses do racionalismo ortodoxo de 1920, forçando a arquitetura moderna (minoritária) a requalificar os laços com a máquina e a superar as limitações de um estilo internacional, mantendo como fundamento a redução dos elementos construtivos à sua geometria essencial e, como norma, o esqueleto independente com lajes planas paralelas em balanço. Na defesa de uma arquitetura moderna inclusiva, como queria Lucio, Niemeyer amplia seu vocabulário e sua sintaxe, demonstrando que pode atender a uma diversidade de demandas de programa e situação, funcionais ou representativas. Alinhado com as realizações de ponta da primeira metade dos anos de 1930, Niemeyer as complementa, expande e às vezes contradiz, com plena compreensão da ambição sistêmica da obra corbusiana e da amenidade do clima brasileiro. O resultado foi saudado como modernismo regional, tropical ou nacional em função da curva livre, dos dispositivos de controle solar e do pilotis aberto - não sem alguma incorreção, considerando a ubiquidade das curvas nos anos de 1930, o efeito estufa das fachadas de vidro nos verões parisienses e a presença de pórticos, alpendres e galerias em diferentes latitudes. Aliás, a arquitetura vernácula é só uma das muitas fontes de Niemeyer no período, assim como a natureza estilizada diretamente, o repertório pitoresco convencionalmente orgânico e suas derivações expressionistas.

Certo, sua obra se opõe a um modernismo produtivista. A manipulação conjunta ou separada de geometrias retilíneas e curvilíneas ressalta entre múltiplas expressões de ambivalência, com insinuações ora clássicas, ora barrocas. A multiplicação de volumes, texturas e técnicas construtivas traz exuberância, apoiada pela extroversão térrea do mecanismo da planta livre. A penetração da base edificada por rota pública ou semipública cria porosidade. Em conjunto, essas características sugerem um modernismo epicurista no sentido estrito, que não é sensualidade desregrada e extrapola amplamente qualquer evocação banal de brasilidade. Inscrita na reflexão genérica sobre a arquitetura, a cor local dispensa o folclore. A reflexão inclui tratar o chão limitado pelo pavimento e/ou jardim como elemento básico da arte, com tudo o que isso implica de transformação da natureza.

A atenção ao espaço aberto público é consequente, especialmente notável no conjunto da Pampulha: o foco dessa atualização do parque de circuito pitoresco é uma enorme praça líquida, ao longo da qual gravitam praças verdes e secas onde se implantam os vários edifícios. De outro lado, fiel à tradição acadêmica, Niemeyer prioriza a caracterização apropriada da diversidade de programas que enfrenta, em termos de atmosfera e de linhagem. A expressão de modernidade se assenta na tradição disciplinar ocidental. A severidade dórica do Ministério contrasta com a elegância jônica do Pavilhão, a simplicidade toscana do Grande Hotel com o luxo coríntio do Cassino da Pampulha; as bases edificadas com colunatas colossais e vazio central declinam, com economia de meios, diversas gradações de monumentalidade, da mais formal à mais rústica. A gama expressiva é vasta, e pouco tem a ver com lirismo como declaração de sentimentos pessoais. Na circunstância excepcional dos anos de 1940, abalados por guerra quente, a obra de Niemeyer tem papel substantivo e acatado.

1954

Casa de campo Cavanelas, Petrópolis, RJ

1965

Partido Comunista Francês (PCF), Paris, França


A baliza da segunda fase é o sucesso do livro de Papadaki, três vezes reimpresso, a que seguem Oscar Niemeyer: works in progress (1956) e, em série sobre mestres da arquitetura mundial, Oscar Niemeyer (1960), traduzido em italiano, alemão e espanhol. Hitchcock o distingue em Latin american architecture since 1945 (1955) e Architecture nineteenth and twentieth centuries (1958); H. Mindlin, em Modern architecture in Brazil (1956). W. Staubli divulga Brasilia em alemão e inglês (1965). E. Bacon a enaltece em The design of cities(1967). Yukio Futagawa fotografa a obra (1968). Após Le Corbusier, é o estrangeiro mais publicado nos Estados Unidos da guerra fria dos anos de 1950, quando a arquitetura moderna ganha hegemonia no Ocidente - e nacionalismo equivale a antiamericanismo no discurso do Brasil desenvolvimentista. Um ano antes do golpe militar, o prêmio Lênin da Paz (1963) reconhece sua militância socialista.

Os encargos se multiplicam na primeira metade dessa década. A obra carioca inclui o projeto do megaedifício Mauá (1950) junto ao Hotel Quitandinha, o Hospital Sul-América, a casa própria na Estrada das Canoas e a casa de campo Cavanelas. A obra paulistana inclui edifícios comerciais e residenciais para o Banco Nacional Imobiliário como o Copan, a fábrica Duchen, a mansão Pignatari e o conjunto expositivo do Parque Ibirapuera. Patrocinada por Kubitschek governador, a obra mineira inclui o edifício Niemeyer, o conjunto JK e o BEMGE em Belo Horizonte, a escola e o hotel de Diamantina, o plano de Cidade Marina.

Brasília ocupa o arquiteto na segunda metade da mesma década, com Kubitschek presidente. O Museu de Arte de Caracas (1954) e a Niemeyerhaus na IBA de Berlim (1957) confirmam o prestígio latino-americano e europeu do arquiteto, aquele não construído e o outro mutilado. Na primeira metade da década dos anos de 1960, entre outros trabalhos na nova capital, projeta o Instituto Central de Ciências da Universidade de Brasília (UnB) com elementos pré-fabricados, junto a trabalhos no Líbano (1962), em Ghana (1963) e Israel (1964). Na segunda metade dessa década, instala escritório em Paris (1965). Faz estudos para os Rothschild em Israel e planos urbanísticos para a França, Argélia e Portugal; projeta a sede do Partido Comunista Francês (PCF) em Paris e o convento dominicano em Sainte Baume (1967), a editora Mondadori em Milão, a casa Mondadori em Cap Ferrat e a mesquita de Argel (1968), a sede da Renault (1969).

1968/1975

Editora Mondadori, Milão, Itália

1972

Universidade de Constantine, Argélia


1984

Ciep's, Rio de Janeiro

Apesar do veto da FAB ao projeto do aeroporto de Brasília, continua trabalhando no completamento do Plano Piloto, assinando, entre outros edifícios, o próprio Quartel-General das Forças Armadas (1968).

Para Belo Horizonte, projeta o Palácio do Governo e, para Curitiba, o Instituto de Educação do Paraná (1967); para o Rio, o edifício Manchete (1966), o Hotel Nacional e o Centro Musical da Barra (1968). Sem hiato na sua produção, Niemeyer não vê por que abandonar os ideais de leveza e de finura, ou prescindir de revestimento nas placas delgadas, opondo-se à guinada arcaizante, brutalista de Le Corbusier ou às caixas de vidro intemporais do Mies norte-americano. Niemeyer reitera e amplia a ideia de uma arquitetura moderna inclusiva, buscando resistir à multiplicidade de polarizações disciplinares em um contexto que favorece o reaparecimento de teses afins às do racionalismo ortodoxo e de pressões por um novo estilo internacional.

Ambivalente e exuberante, continua a explorar a figuralidade orgânica, multiplicando lajes de bordas ameboides e pilares em V, tanto quanto a figuralidade cristalina dos volumes regulares. Usa a pré-fabricação e constrói abóbadas ou cúpulas artesanais com a mesma propriedade. Aceitando as regras do jogo da cidade capitalista feroz, antecipa uma cultura de congestão propondo unidades de habitação à brasileira, navios ancorados que são condensadores sociais metropolitanos, de filiação hoteleira vulgar. Na Arcádia nova brasiliense, continua a explorar arquétipos, inventando uma monumentalidade antimonumental impressionante que desafia em parte a lógica estrutural ordinária e o bom-senso climático para melhor caracterizar o empreendimento. Em paralelo à representação surreal às vezes exacerbada, faz da pré-fabricação um instrumento da arte. No fim do período, o exibicionismo estrutural e os vãos desmedidos sugerem uma convergência com o brutalismo paulista, e também um emblema de desenvolvimento.

A contestação, de certa maneira, era previsível. A contrapartida da hegemonia moderna é a disputa interna por reconhecimento que concorre para diferenciar posições de grupos e posições pessoais dentro de grupos. A contrapartida da consagração é a controvérsia, com 8 9 1968/1975 Editora Mondadori, Milão, Itália 1972 Universidade de Constantine, Argélia o papel de Niemeyer indevidamente minimizado por inimigos dentro e fora do País, ainda que a arquitetura moderna brasileira não se reduza à sua obra. A fundação da revista Móduloresponde às provocações de publicações como a Habitat. O mesmo barroco que é elogio para os admiradores é vitupério para os adversários, anglo-germânicos e italianos preconceituosos a fim de polêmica e não de ponderação. A mesma curva, que em Aalto é humana, em Niemeyer se dá por frívola, o que é estática em Candela é decoração e irresponsabilidade em Niemeyer.

1991

Teatro de Araras, SP

1996

Museu de Arte Contemporânea, Niterói, RJ


A terceira fase coincide com a emergência do pós-modernismo, quando Brasília vira o símbolo de todos os equívocos reais ou supostos da arquitetura moderna, condenada por elitista, frívola, superficial, formalista e desumana como o autor de seus palácios. A análise perspicaz e positiva de R. Spade em Oscar Niemeyer e Y. Bruand em L'architecture contemporaine au Brésil (1971), N. Evenson em Two Brazilian capitals (1973) ou R. Banham em Age of the masters (1975) não sensibiliza K. Frampton em Modern architecture: a critical history (1980), para quem Pampulha já continha as sementes da decadência de Brasília. A obra posterior se despreza, paradoxalmente, por demasiado moderna e insuficientemente moderna ao mesmo tempo.

O descrédito não parece afastar os clientes. No exterior, Niemeyer conclui a Universidade Mentouri de Constantine, Argélia (1972), a editora Mondadori (1975), a sede do PCF, em Paris (1981), faz a Casa da Cultura do Havre, França (1972/1983), a Bolsa do Trabalho de Bobigny, França (1972/1978), o edifício Fata em Turim, Itália (1975/1981), um hotel na ilha da Madeira (1976), a sede de L'Humanité, jornal do PCF, França (1987), planos urbanos para uma ilha artificial em Miami (1971), Dieppe (1972) e Villejuif (1978), além de um projeto para residência estudantil em Oxford, Reino Unido. Em Brasília, durante o milagre econômico, firma os anexos do Congresso, dos Ministérios, do Palácio do Planalto e do Supremo como o Palácio do Jaburu (1973/1977) para a vice-presidência; em Curitiba, recicla o Instituto de Educação do Paraná em edifício administrativo (1974/1976).

A década de 1980 é de atividade intensa no País, quando a crise econômica impulsiona a abertura política e a redemocratização. Além de mais anexos para a burocracia, Niemeyer constrói o Memorial JK (1980), o Museu do Índio e o Panteão da Pátria (1985) em Brasília; a Passarela do Samba (1983) e os Ciep's (1984) para o governo fluminense de Leonel Brizola; o Memorial da América Latina (1986/1988) para o governo paulista de Orestes Quércia. A atividade no exterior diminui, limitando-se a projetos não executados, entre eles o Estádio de Turim.

Na linguagem venturiana, Niemeyer trabalha tanto com patos, quanto com abrigos decorados, produzindo variações sobre as suas pesquisas anteriores, multiplicando as barras curvas, os jogos de volumes contrastados, 11 12 diferentes tipos de arcadas; incorpora estruturas suspensas a seu repertório ao mesmo tempo em que enfrenta a pré-fabricação com orçamento limitado. A versatilidade e a profusão têm preço às vezes alto. O esquematismo das grandes composições e a superfluidade de algumas intervenções incomoda até simpatizantes. Contudo, o sectarismo pós-modernista acaba por estimular uma revisão da arquitetura moderna e da obra de Niemeyer, incluindo análises tipológicas honestas como a de G. Luigi, Oscar Niemeyer: une esthétique de la fluidité (1987). Embora tardio e partilhado com Gordon Bunshaft, o Prêmio Pritzker (1988) registra um interesse que o Prêmio Príncipe de Asturias (1989) corrobora.

2007

Centro Cultural de Goiânia, GO

2011

Centro Cultural Niemeyer, Avilés, Espanha


A quarta fase acompanha, de algum modo, a recuperação da própria arquitetura moderna e o seu entendimento como polifonia, em que há lugar para o ascetismo e a diversificação formal, ambos justificáveis pragmática e metaforicamente dependendo da situação. Niemeyer ganha o Leão de Ouro da Bienal de Veneza (1996), a Medalha de Ouro do Riba (1998), o Praemium Imperiale da Associação de Arte do Japão (2004). Poucos são os projetos efetivamente construídos nos anos de 1990, entre eles o Teatro de Araras (1991), o Museu de Arte Contemporânea em Niterói (1991/1993) e o anexo 2, sinuoso e espelhado do Supremo Tribunal Federal (1995/1998). O efeito Bilbao aumenta a procura pelo arquiteto. Para a arte, a oportunidade aqui não é fugaz. Para o cliente, o experimento está longe de ser perigoso. Entre as novas realizações, destacam-se o olho do Novo Museu de Curitiba (2002), a logomarca escultórica para a reciclagem, pelo Brasil Arquitetura, do edifício administrativo Castello Branco, ex-Instituto de Educação do Paraná, assim como o novo Auditório do Ibirapuera (2002), o centro cultural de Duque de Caxias (2002/2004), a Biblioteca e o Museu Nacional em Brasília (2006), o centro cultural de Goiânia (2007); no exterior, a Serpentine Gallery no Hyde Park de Londres (2003) e o auditório em Ravello (2010), na costa amalfitana.

O gênio do arquiteto não se discute, a legalidade da diferença que sua obra aporta não mais se questiona. Contudo, apesar da facilidade sempre renovada, surpresa que se repete esquemática, não mais encanta ou não satisfaz de todo. E dói saber que a obra recente pode bem desfigurar a obra prima antiga. De outro lado, se muitos já mostraram que pelo menos nesta há muito mais do que o olho encontra, o entendimento de seu viço complexo está longe de ser pleno. Em certa redescoberta anglo-americana, a curva da mulher amada é agora a curva feminista, a curva dos morros da minha terra é a denúncia da favela. No fim, é sempre questão de alteridade e exotismo. Certo, repetindo Hipócrates, o juízo é difícil, ainda mais quando a vida é tão vasta quanto a obra. Mas com amigos desse tipo, quem precisa de inimigos?

Imagens
1/2/4/5/6/7/8/9/10/11/12/13/14 Leonardo Finotti
3 divulgação Oscar Niemeyer

Carlos Eduardo Comas é arquiteto e professor da FAU/UFRGS

Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/226/artigo276015-1.aspx

0 comentários:

 
IAB Tocantins Copyright © 2009 Blogger Template Designed by Bie Blogger Template
Edited by Allan