Sustentável na prática

Por Maryana Giribola

Edição 234 - Setembro/2013

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Para aplicar medidas sustentáveis em projetos de arquitetura, não basta prever soluções eficientes sem análises prévias detalhadas de cada sistema. Quando um cliente opta por sustentabilidade, os parâmetros devem ser estabelecidos com antecedência.

É preciso pensar que todo o processo, desde a análise dos sistemas adequados, passando pela seleção de fornecedores e materiais em conformidade com as normas regulamentadoras até o controle de mão de obra dentro dos canteiros, precisa ser controlado.

SUSTENTÁVEL DESDE O COMEÇO
O briefing é o primeiro passo para um projeto sustentável e com o menor número possível de improvisos durante a execução. Briefings bem-feitos estabelecem em seus programas os parâmetros de desempenho do projeto, o que inclui as medidas sustentáveis que serão adotadas.

"O cliente pode querer focar no uso racional de água, sistemas passivos, materiais e revestimentos. Tudo começa com o briefing do cliente", diz Cristina Umetsu, gerente de consultoria do projetos do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE). "O Leed, por exemplo, exige esse documento com as premissas do proprietário. Mas o Brasil tem pouco hábito de documentar", critica a consultora.

O primeiro passo para um bom briefing é estabelecer, em parceria com o cliente, um programa de necessidades, como os ambientes do projeto, metragens mínimas, localização etc. Em um segundo momento, é importante definir as diretrizes de instalação dos sistemas, como os de ar-condicionado, hidráulico e elétrico. Em níveis mais avançados, as diretrizes de escopo podem definir objetivos do projeto como os benefícios ao longo de sua vida útil.

ESCOLHENDO OS SISTEMAS
Ainda na fase de elaboração do briefing, alguns sistemas já podem ser estudados como alternativa para o projeto. Geralmente, a escolha das soluções é feita em conjunto com o cliente e de acordo com as exigências definidas para o projeto, explica Roberto Lamberts, pesquisador do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (Labee), da Universidade Federal de Santa Catarina.

Para fazer a escolha de um sistema de ar-condicionado eficiente, por exemplo, Lamberts explica que é preciso analisar o Coeficiente de Performance (COP) da máquina, que é subdividido por classes.

Caso o cliente opte por um sistema de aquecimento solar, é preciso analisar a fração solar do conjunto, ou seja, quanto da água quente do projeto será gerada pelo sol. E o importante na hora da compra é avaliar, além da etiqueta de classificação, questões como a metragem quadrada total das placas e do sistema de isolamento térmico, da canalização do reservatório, entre outras questões do sistema como um todo.

Já no caso de painéis fotovoltaicos, é preciso avaliar se o projeto não consome mais energia que gera, e a partir daí dimensionar as placas, dependendo do clima da região.

MATERIAIS E FORNECEDORES
Não basta optar por sistemas sustentáveis se os materiais escolhidos para a obra não o forem. Uma recomendação é observar se o produto conta com certificação. Hoje, muitos materiais da construção civil são certificados, como tijolos maciços cerâmicos, blocos, telhas cerâmicas e de concreto, aço para armaduras, madeiras, entre outros. Basicamente, os selos emitidos pelos órgãos certificadores garantem que os produtos foram produzidos de acordo com as suas respectivas normas regulamentadoras.

Também não é raro encontrar produtos com "verniz verde", que se vendem sustentáveis, mas, analisando-os estritamente, não o são. Lula Gouveia, arquiteto e sócio do Superlimão, conta que uma vez foi procurado para conhecer um novo revestimento de bambu, uma matéria-prima, de fato, renovável. "Quando o vendedor me falou que o produto vinha da China, questionei-o sobre a quantidade de carbono emitida. Ele nunca mais voltou."

Outra ferramenta que auxilia na seleção de empresas e materiais sustentáveis é o guia 6 Passos, do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS). Segundo o guia, verificar a formalidade da empresa é o primeiro passo, seguido da verificação de sua licença ambiental, entre outras consultas necessárias.

CANTEIRO CONTROLADO
A informalidade de mão de obra na construção civil ainda é realidade no Brasil, e uma obra sustentável deve controlar a existência de trabalhadores não registrados dentro de fornecedores ou de empresas terceirizadas.

"Além de verificar a conformidade da empresa, procuramos conversar com o pessoal que está na obra, para investigar se eles são registrados de fato", conta Lula. Outra dica é sempre buscar fornecedores que emitam nota fiscal ou mesmo trabalhar com empresas de grande porte, nas quais a chance de irregularidade é menor.

O trabalho de reúso de materiais na própria obra, além de obviamente reduzir a quantidade de resíduos, também é uma forma, ainda que indireta, de evitar problemas com mão de obra informal. "Com isso, a obra reduz a necessidade e a chegada de material, que acaba reduzindo a geração de entulho e outras etapas do processo. Mas é preciso verificar com cuidado os tipos de materiais existentes e quais deles podem ser reaproveitados", avisa o arquiteto.

O QUE DIZEM AS NORMAS
Além das normas de gerenciamento de projetos que tratam de ações sustentáveis, como a ISO 26.000 e a NBR 16.001, a norma de desempenho NBR 15.575 tem impactado o trabalho dos arquitetos. "A abrangência da norma de desempenho é grande, já que incorpora toda a cadeia construtiva. Desde o incorporador, que vai escolher um terreno sem problemas de contaminação, até a escolha do lote em relação às áreas climáticas do Brasil", diz Bárbara Kelch, coordenadora do grupo de normas técnicas da Asbea.

Durante o desenvolvimento do projeto, os arquitetos devem documentar a especificação de determinado material, ou qual tipo de isolação será feito para atingir o nível mínimo que a norma estabelece. "A norma não é específica para a área de sustentabilidade, mas quando começamos a tratar de materiais, de durabilidade e de manutenção, conseguimos um edifício mais sustentável."

Seis passos para seleção de insumos e fornecedores com critérios de sustentabilidade

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1 Verificar a formalidade da empresa fabricante e fornecedora
Junto à Receita Federal, conferir se o CNPJ é válido. Se não estiver válido ou ativo, o fornecedor deve ser descartado

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2 Verificar a licença ambiental
A existência da licença não é garantia contra impactos ao meio ambiente, mas sua ausência dificulta muito qualquer possibilidade de respeito à lei. Também deve ser avaliado o local de origem do produto e a distância de transporte

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3 Verificar as questões sociais
Se a empresa já foi autuada por trabalho infantil, trabalho escravo, condições precárias de higiene, jornadas excessivas ou sem alimentação adequada, deve ser evitada

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4 Qualidade e normas técnicas do produto
Verifique se o fornecedor está na lista de empresas qualificadas pelo PBQP-H. Se o produto não constar na lista, procure por recomendações setoriais

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5 Consultar o perfil de responsabilidade socioambiental da empresa
Esse conceito abrange as ações que estão além das obrigações legais da empresa, divididas nos temas: funcionários e fornecedores; meio ambiente; comunidade e sociedade; transparência e governança

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6 Identificar a existência de propaganda enganosa
Disfarçar aspectos negativos do produto, falta de provas quanto às afirmações do produto, informações genéricas e imprecisas, informações falsas ou exageradas são alguns dos itens a que o projetista deve estar atento. Mesmo quando o produto alega ter uma certificação, é preciso avaliar os critérios da instituição

Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/234/sustentavel-na-pratica-296118-1.aspx

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