Como compatibilizar bem projetos de diferentes especialidades

Por Juliana Nakamura
Edição 211 - Outubro/2011


A compatibilização de projetos é fundamental para evitar erros devido a interferências entre projetos das diferentes especialidades e minimizar o retrabalho, reduzindo prazos de projeto e execução, desperdícios e custos. É, também, um dos maiores desafios enfrentados no dia a dia dos escritórios de arquitetura e das empresas construtoras. Do estudo preliminar ao projeto executivo, corrigir as incompatibilidades entre diversos projetos, apontando e propondo as adequações necessárias, é fundamental para evitar problemas posteriores na obra.
Na compatibilização, projetos de diferentes especialidades são sobrepostos de modo que as interferências entre eles sejam detectadas e, assim, resolvidas, normalmente, pelo coordenador de projetos. É função do coordenador, por exemplo, conseguir as informações de todas as especialidades envolvidas para compatibilizar o projeto de arquitetura com os demais, antes de começar a execução da obra. "Também é papel do coordenador acompanhar o desenvolvimento dos projetos complementares com reuniões, troca de e-mails, consultar especialistas e fornecedores, orientar a equipe e dar apoio ao cliente", revela Renato Trussardi Paolini, coordenador de projetos do escritório Aflalo & Gasperini.


COORDENAR E COMPATIBILIZAR


Ana Cristina Ferrari Gualberto, arquiteta da empresa Bolsa de Imóveis Desenvolvimento Imobiliário, explica que a maioria dos coordenadores de projeto atua somente na compatibilização de projetos, abstendo-se, lamentavelmente, da atividade de coordenação de projetos. Isso porque a coordenação, além das funções gerenciais, envolve funções técnicas importantes para a solução de problemas de compatibilização. "Antes da compatibilização deve ocorrer o planejamento e a modelagem do projeto, escopos da coordenação. Esta ação antecipada à compatibilização permite a racionalização das soluções de projeto e assegura a qualidade de todo o processo, até a construção", afirma Ana Cristina.


NO MEIO DO FOGO CRUZADO


Um dos motivos que levam à incompatibilidade nos projetos é a dificuldade de comunicação entre os agentes envolvidos neles. Entre outras dificuldades verificadas na multidisciplinaridade da equipe está o uso de programas conflitantes, layers e nomenclaturas sem padronização, comprometendo a unicidade do projeto com relação às informações e à sua apresentação.
Adriano Luiz Scarabelot, professor de um curso sobre compatibilização de projetos no Crea-Paraná, explica que a falta de uma linguagem comum entre os profissionais gera dificuldades desnecessárias. "O coordenador do projeto perde mais tempo organizando o arquivo e fazendo um trabalho braçal do que checando as interferências", diz o arquiteto e administrador de empresas.
Também são recorrentes os conflitos entre a equipe de arquitetura e os profissionais de projetos de engenharia, sobretudo na área de instalações prediais (elétrica, hidráulica, ar-condicionado e automação). "Os projetistas costumam lançar as áreas técnicas e mecânicas com muito espaço perdido e não imaginam como estudar soluções arquitetônicas para reduzir esses espaços. Em contrapartida, nós, arquitetos, sempre pensamos em estudar melhores soluções eliminando todo espaço perdido para conseguir o maior aproveitamento de área computável e área privativa", exemplifica o arquiteto Renato.
Segundo Adriano, outra causa de incompatibilidade de projetos - e, consequentemente de dor de cabeça para os coordenadores - é a própria metodologia de projeto utilizada em grande parte dos escritórios de arquitetura muito centrada na estética do projeto e que ainda envolve processos individualistas. "É importante que haja uma mudança de postura em relação ao projeto. O arquiteto precisa começar a pensar de maneira simultânea e colaborativa", acredita ele.


TECNOLOGIA AMIGA

Se por um lado a redução dos prazos e o maior número de agentes envolvidos nos projetos dificultam a compatibilização de projetos, por outro, a tecnologia da informação tem ajudado os coordenadores a organizar dados, sobrepor os desenhos de arquitetura aos dos projetos de engenharia e compartilhar informações.
Nesse sentido, uma das ferramentas que vem auxiliando a atuação dos coordenadores de projetos são os extranets, serviços eletrônicos de gerenciamento de projetos que utilizam a infraestrutura da internet. Um exemplo é o Sistema de Armazenamento de Dados de Projetos (SADP), que realiza o armazenamento de dados baseado em protocolos de transferência de arquivos pela internet. Esse tipo de solução permite centralizar todo o trabalho realizado pelos projetistas e consultores. Também possibilita que os participantes do projeto - cliente, arquiteto e projetistas - acessem o sistema a qualquer momento. "O SADP facilita a vida de todo mundo", conta Renato, destacando que uma grande vantagem do sistema é evitar a troca de informações via e-mails.
Com a inclusão de novas tecnologias no processo, como o Building Information Modeling (BIM), algumas tarefas podem ser automatizadas, como a compatibilização de interferências, liberando o coordenador para serviços mais complexos, como controle de cronograma. "Muitas vezes as plantas não são suficientes para um engenheiro compreender a complexidade volumétrica de uma arquitetura. É nesse aspecto que os sistemas 3D podem ajudar", finaliza o professor do Crea-PR.

Para compatibilizar bem


- Atenha-se a uma etapa da compatibilização por vez, sem cobrar informações de etapas futuras antecipadamente dos projetistas e, tampouco, adiar análises que possam gerar retrabalhos
- Os conceitos adotados nos projetos (tipologia de sistema estrutural, sistema de aquecimento, necessidade de gerador etc.) devem estar consolidados entre todos os envolvidos antes do início do trabalho
- Cheque se a arquitetura disponibilizou espaços verticais e horizontais para caminhamento de tubulações e dutos, e se a estrutura respeitou estes espaços não os ocupando
- Verifique se a estrutura previu os furos para passagens de instalações em vigas e lajes de forma a não distorcer a arquitetura com soluções tardias
- Dedique atenção especial à área de instalações prediais e às interações que envolvem o sistema de cobertura e estrutura e as ligações das instalações junto às concessionárias
- Verifique e aprove as adequações efetuadas, mantendo um registro atualizado das mudanças solicitadas e realizadas

Fonte: Ana Cristina Ferrari Gualberto

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