A atuação na área de comunicação visual

POR JULIANA NAKAMURA | COLABOROU GISELE CICHINELLI
Edição 255 - Junho/201

ilustração Sergio Colotto

Área do conhecimento abrangente que alia concepção arquitetônica a diretrizes do marketing e da publicidade, a comunicação visual é uma especialidade que desperta cada vez mais interesse dos profissionais. Atividades como sinalização ambiental e urbana e programação visual de edifícios fazem parte do escopo desse trabalho, que mantém estreita relação com disciplinas em voga, sobretudo com o branding, que trata da criação e gestão de marcas.
QUEM CONTRATA 
O contratante de projetos de comunicação e programação visual normalmente são grandes corporações e empresas que se preocupam com sua identidade e com seu posicionamento perante o público. "Atualmente, as maiores oportunidades estão em projetos corporativos e residenciais feitos por grandes construtoras e incorporadoras", acrescenta João Nitsche, fundador da Nitsche Projetos Visuais. "Ainda que os espaços públicos e culturais representem, a meu ver, uma oportunidade de trabalho mais interessante e humana, os projetos dessa natureza são bem mais escassos", lamenta.
Nos últimos anos, as competências da programação visual e do desenho industrial fundiram-se, e o desenvolvimento sistêmico de identidade corporativa e ambiental tornou-se um dos trabalhos mais recorrentes para os arquitetos que atuam com comunicação visual. "Em especial no ramo do varejo, a demanda é permanente por projetos de identidade corporativa e ambiental, e de adaptação aos avanços midiáticos", acrescenta Douglas Piccolo, diretor do escritório de arquitetura e planejamento visual que leva o seu nome.
PROCESSO DE PRODUÇÃO
O dia a dia de quem trabalha com comunicação visual não é muito diferente do arquiteto que atua na produção de projetos residenciais. "A gente cria projetos, fala com fornecedores e clientes, faz visitas em obra. O que muda é o perfil dos clientes, que no nosso caso, são incorporadoras, na maioria. A relação com as pessoas, que vão morar ou usar o empreendimento é indireta", revela João.
O caráter do projeto costuma ser dado pela demanda e pela reflexão em cima do problema proposto pelo cliente, conta o arquiteto Rogério Batagliesi, titular do Batagliesi Arquitetos + Designers. A partir daí, elabora-se uma proposta técnica. "Estudamos o mercado de atuação da empresa e analisamos como é seu contato com o público. Seguimos os padrões do cliente, mas não podemos nos deixar enrijecer por eles", conta Rogério.
OBSTÁCULOS COTIDIANOS
No decorrer desse processo, há muito retrabalho. Essa é uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos profissionais, que precisam lidar com clientes que frequentemente chegam com demandas abstratas e briefings incompletos. "A nossa proposta acaba colaborando na definição de um briefing adequado ao cliente. Por isso, a melhor maneira de trabalhar é como consultoria. A obra está aberta e deve ser composta ao longo do projeto", acredita Rogério.
Outro desafio enfrentado pelos profissionais é disponibilizar sua força criativa no volume e ritmo exigidos. "É bem mais difícil ter boas ideias quando temos muitas coisas para criar em curto prazo de tempo. Mas, em contrapartida, é esta pressão que nos faz procurar soluções diferentes", pondera João.
TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS
Nos últimos anos, o trabalho de quem faz comunicação visual se transformou drasticamente com a incorporação da tecnologia e de recursos mais avançados de informática. "A rotina está mais ágil na produção de desenhos e na arte-finalização das imagens em função das ferramentas digitais e dos equipamentos de impressão. Antigamente era necessária uma equipe enorme e todo procedimento era praticamente um artesanato", lembra Douglas, que atua nesse segmento há mais de 40 anos.
"Com a tecnologia, não há mais intermediários. Nós somos, de um ponto de vista mais radical, a própria produção. Com as impressoras 3D isso deve se aprofundar ainda mais", aposta Rogério. "A alternância de tecnologia pode ser problemática. É preciso ter fôlego para acompanhar essas mudanças, para estar sempre up to date", pondera.
REMUNERAÇÃO E VALORIZAÇÃO
A remuneração aplicada aos projetos de comunicação visual muitas vezes é aquém do seu valor justo, segundo os profissionais entrevistados. "O problema é que, nas áreas de design e arquitetura, qualquer leigo se acha tão REMUNERAÇÃO E VALORIZAÇÃO A remuneração aplicada aos projetos de comunicação visual muitas vezes é aquém do seu valor justo, segundo os profissionais entrevistados. "O problema é que, nas áreas de design e arquitetura, qualquer leigo se acha tão competente quanto o profissional", reclama Rogério. O salário de um designer gráfico em início de carreira fica entre 3 mil reais a 5 mil reais por mês (em São Paulo), dependendo da sua formação e experiência.
"Poucos querem pagar por design, e isso se refl ete no que vemos por aí. Há pouco de novo, espetacular ou digno de referência", continua o arquiteto Vicente Gil, professor da FAUUSP que desenvolve projetos de comunicação visual desde sua formação, em 1976.
FORMAÇÃO ABRANGENTE
Assim como a arquitetura, a comunicação visual está alicerçada na convergência entre saberes da humanidade, das artes e das técnicas. Por isso, é importante que o profissional dessa área tenha uma formação que abarque essas áreas do conhecimento. "Não pode ser apenas um humanista, um artista ou um técnico, mas sim, a soma dos três numa proporção equilibrada e simultânea", analisa Douglas.

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