Uma introdução à arquitetura nas pedagogias alternativas


Imagem: Projeto Espaço Lúdico – Escola 304 Norte - DF / 2005
Autor do projeto de arquitetura: Fabiano José Arcadio Sobreira




A aprendizagem acontece em múltiplos espaços. De fato, as primeiras lições de vida ocorrem em nossas casas, ao lado de nossas mães, em família; não em aulas escolares. A educação -poderíamos afirmar – está determinada pelo contexto onde ocorre. Aprende-se espontaneamente em uma praça, no parque, em casa, etc., o que não quer dizer que muitas vezes não seja necessário um espaço desenhado especialmente para o aprendizado; estes propiciam experiências educativas. Não se trata de uma novidade: já há mais de um século, pessoas como Maria Montessori, Rudolf Steiner e Loris Malaguzzi questionaram não só a maneira de educar, como também o espaço em que se educa.


Corona School de Richard Neutra(1935)


É no século XX, com o movimento Moderno, quando se transforma a maneira de ver o espaço escolar. Começa-se a pensar nas maneiras em que o espaço favorece ao crescimento, o desenvolvimento e o aprendizado da criança. É então que se desenvolvem ideias como as de um ambiente que tenha maior contato com o externo (com o ar e o sol), maior transparência espacial, maior interação entre os ambientes de dentro e de fora. Começam assim as novas conquistas na arquitetura escolar, em matéria social e espacial.


École de plein-air, Suresnes _ 1932-1935, Eugène Beaudouin et Marcel Lods



Maria Montessori, Rudolft Steiner e Loris Malaguzzi são quem, em seus estudos pedagógicos, incluem de maneira mais concreta os aspectos do entorno físico.Maria Montessori propõe em seu método conhecer plenamente as crianças e respeitar seu desenvolvimento, para que desta forma a educação acompanhe o processo natural da vida. Pensando o espaço neste sentido, sugere un ambiente preparado para a criança no qual deve haver elementos proporcionados a sua escala, que permitam dirigir a criança ao conhecimento. Os objetos não devem ser muitos, e sim a quantidade justa e necessária para a aprendizagem. Os elementos e suas formas devem ser simples; o espaço, fácil de manter limpo, sem elementos que se interponham ao fluir do ambiente; de tal forma, várias atividades devem poder ser realizadas simultaneamente.

O arquiteto Herman Hertzberger é um dos que, através do projeto “Escuela Apollo”, interpreta estas ideias do espaço nas teorias de Montessori. Tal escola possui em suas aulas cubos móveis que são parte do piso mas ao mesmo tempo são parte do mobiliário da aula. Por sua vez, se dá grande importância ao espaço comum onde crianças de todas as idades possam se encontrar para desenvolver atividades em conjunto e aprender umas com as outras.



Escola Apollo, Herman Hertzberger, 1980.



Por outra parte encontramos a Rudolf Steiner, pedagogo e arquiteto, que propõe outra visão da educação baseada na busca da essência do ser humano através da criatividade, da arte, do movimento e do respeito pelos ciclos da vida. Em matéria de especialidade, propõe a arquitetura baseada em seu estudo antroposófico. Isto é, a arquitetura orgânica relacionada com a natureza, na qual se utilizam materiais reciclados e acessíveis em cada contexto. Também se refere à possibilidade de adaptar a arquitetura às condições climáticas do ambiente sem utilizar elementos artificiais.



El Goetheanum, Dornach, Suiza. Arquiteto: Rudolf Steiner



Um aspecto importante na “particularidade” da pedagogia de Steiner se refere a evitar os retos, o que se relaciona com a união da educação e o espiritual. O resultado é um ambiente desenhado segundo a escala dos estudantes, fabricado com materiais rudimentares e evitando tanto as novas tecnologias como as formas monótonas. Nestas escolas se dá muita relevância aos espaços ao ar livre, já que permitem o agrupamento e debate. Em tal sentido, os espaços para a agricultura e as práticas artísticas e desportivas adquirem um rol destacado dentro do desenho arquitetônico desta pedagogia.
Finalmente temos a Loris Malaguzzi, quem desenvolveu a pedagogia de Reggio Emilia, fundada basicamente na ideia de que as crianças têm capacidades, potenciais, e interesse em construir seu próprio aprendizado. Elas se interessam naturalmente pelas interações sociais e em relacionar-se com tudo o que o ambiente lhes oferece. A proposta em matéria de especialidade aponta que as escolas possuam zonas contíguas, oficinas de arte ou ateliês com grande quantidade de materiais e recursos para todos as crianças: uma aula de música; uma área para o desenvolvimento motriz, expressivo e criativo do corpo; espaços verdes para a utilização do entorno (cidade, campo, montanha, etc.) como elemento didático. Dentro da aula, as paredes costumam ser brancas, o que transfere à criança paz em seus processos de aprendizado. Por sua vez, estão previstas para a realização de exposições curtas ou permanentes das crianças e familiares.



Aula de una escola Reggio Emilia


Estes pensadores permitiram abrir um novo caminho ao desenho do espaço escolar. Hoje em dia podemos encontrar uma grande variedade de projetos arquitetônicos desta índole, baseados em muitas das teorias pedagógicas inovadoras que buscam construir escolas que transformem o espaço onde ocorre o milagre da educação. Por exemplo, na Suécia, as escolas “Vittra”: simplesmente, escolas sem aulas, com ambientes que facilitam e permitem o aprendizado em sua forma natural.



Vittra school brotorp. 2012



Vittra school brotorp. 2012



Outro exemplo são as escolas do arquiteto Giancarlo Mazzanti na Colômbia, que refletem uma arquitetura pensada e realizada para as crianças.


Escola Preescolar. Giancarlo Mazzanti. 2011



O mundo continua mudando… As maneiras de nos comunicarmos, de aprender, de nos movermos evoluem… A educação não fica atrás. Responde a este movimento contínuo de transformações. A arquitetura deve ir acompanhando-as; gerar espaços propícios para a educação, espaços capazes de transmitir emoções, de gerar pertencimento de facilitar o aprendizado em sua forma mais natural e simples.


FONTES

  • González, O. (2012). Hacia una nueva arquitectura escolar [Blog en línea]. Consultado 4 de novembro de 2013 no seguinte link
  • Ramírez Potes. “Arquitectura y pedagogía en el desarrollo de la arquitectura moderna”. Revista Educación y Pedagogía, Medellín, Universidad de Antioquia, Facultad de Educación, vol. 21, núm. 54, mayo-agosto, 2009
  • Wong.N. (2008). Historia de la arquitectura Educativa. [Articulo de Blog en Línea]. Consultado em 15 de janeiro de 2014 no seguinte link
  • Loreto. A. (2012) Arquitectura Escolar-La escuela como espacio para la transformación y como estructura de una sociedad. [Tesis en línea]. Universidad Simón Bolivar, Venezuela. Consultado em 9 de janeiro de 2014 no seguinte link

Texto: Sabine Beyer
Originalmente publicado em Reevo.org

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