Opiniões de especialistas: Temas urgentes no mundo, e como os arquitetos os enfrentam

Edição 259 - Outubro/2015

Imagens: divulgação Ateliê Bow Wow

Imagens: divulgação Ateliê Bow Wow

Projetado como um espaço público coberto, o Kaka'ako Agora (2014), no Havaí, transforma um galpão de 299 m² em um centro acessível ao público, gratuito, para reunião de pessoas. O projeto do escritório japonês Atelier Bow-Wow se baseia na construção de uma instalação em um dos lados do galpão, com espaços de sentar e um mezanino que adiciona 63,8 m² ao espaço antes vazio. Hoje, o Kaka'ako Agora recebe eventos de arte e cultura, incentivando os encontros e sendo um espaço pontual que influencia uma escala maior da cidade

Refugiados de guerra, fronteiras, violência urbana, desigualdades sociais, mobilidade urbana, habitação, espaços públicos, densidade, tecnologias, água.

Quais são os temas urgentes no mundo e que papel os arquitetos assumem frente a esses acontecimentos? A busca por essas duas respostas traça o caminho desta edição especial de 30 anos de AU. Para não nos aventurar em apenas uma rota (e sozinhos), fomos buscar diferentes opiniões e experiências de especialistas no Brasil e no exterior: professores, arquitetos, editores nos escreveram sobre o que acham importante como tema a ser discutido para o desenvolvimento mundial hoje, e como os arquitetos estão lidando com essas questões.

Dessas conversas surgiram os projetos publicados nesta edição. São trabalhos que tratam de espaços públicos, situações de risco, moradia, desenvolvimento de projeto com comunidades. Trabalhos que trazem questões importantes sobre o papel do arquiteto - seja na construção de uma residência com orçamento restrito ou de um centro com pistas de skate para crianças afegãs. Antes de publicar os projetos, apresentamos, aqui, a opinião dos entrevistados.

ESPAÇOS PÚBLICOS

Marcelo Scandaroli

Tom Avermaete
professor de arquitetura na TU Delft, na Holanda, com pesquisas na área de reativação do espaço público. Faz parte do conselho editorial da Oase Architectural Journal e do Journal of Architectural Education (JAE)

Um dos maiores desafios para futuros arquitetos será se envolver com a questão dos espaços públicos. A dominação de ideologias neoliberais no desenvolvimento urbano nas últimas décadas colocou em perigo o crescimento urbano fragmentado, e uma diminuição de espaços públicos acessíveis. Em muitos lugares, as cidades crescem rapidamente sem relação entre suas diferentes partes, e o espaço público fica cada vez mais segregado, comodificado e restrito - um fenômeno espacial chamado de "balcanização" e "enclavização" do espaço urbano. Como resultado, os benefícios sociais de um espaço urbano público, incluindo a interação de pessoas diversas, maior coesão social e promoção de um senso de identidade vêm sendo erodidos. Governos e instituições de planejamento têm normalmente trabalhado esses temas a partir de instrumentos de planejamento tradicionais, imaginando que as cidades se mantenham controláveis se gerenciadas a partir da grande escala e negligenciando, assim, princípios de crescimento que normalmente acontecem no nível do edifício (lote) ou de um projeto urbano particular (quadra). Mas acredito que a questão do espaço público na cidade contemporânea precisa ser pensada a partir da escala do projeto de arquitetura. É precisamente nessa escala do desenvolvimento urbano que decisões estratégicas para o domínio público deveriam ser tomadas, e que futuros arquitetos poderiam ser desafiados a trazer novas perspectivas e aproximações.

O trabalho do escritório japonês Atelier Bow-Wow começa a explorar essa nova aproximação ao espaço público. Em seus projetos para o entorno da Estação Kitamoto, no Japão, e o Kaka'ako Agora, no Havaí, eles ilustram que não é necessário desenvolver projetos de grande escala, mas que a esfera pública pode ganhar novas energias com intervenções arquitetônicas pontuais e precisas. É uma forma diferente de intervir na cidade: com uma multiplicidade de projetos de pequena escala podemos criar um domínio público poderoso para os cidadãos.

MORADIA

Acervo pessoal

Nora Akawi
diretora do Studio-X Amã e professoraassistente adjunta da Universidade de Columbia, em Nova York

Sou palestina e dirijo o Studio-X em Amã, Jordânia. Questões de guerra, migração forçada, reconstrução e moradia estão constantemente na frente do discurso crítico de arquitetura.

Organizei em março uma conferência chamada Proposições, que faremos novamente em 2016, para investigar sobre essas questões importantes com arquitetos, pesquisadores, artistas e educadores de todo o mundo. Na próxima edição, focaremos no tema da reconstrução, não apenas da perspectiva do urbanista e do arquiteto e literalmente da reconstrução de cidades destruídas, mas também pensamos na reconstrução de arquivos perdidos, paisagens perdidas, narrativas perdidas. No contexto de Jerusalém, a questão da moradia é muito crucial. O sistema legal de Israel, desenhado para manter uma minoria demográfica de palestinos abaixo de 28%, está causando diversas formas de limpeza étnica na cidade. Regras, planos diretores e métodos de zoneamentos, além de demolição de casas estão forçando os palestinos a deixarem a cidade. Há um escritório em Jerusalém, o Senan Abdelqader Architects, que está lidando com essa questão de uma maneira muito interessante e com uma linguagem arquitetônica contemporânea, globalmente relevante e inovadora.

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Fonte: http://www.au.pini.com.br//arquitetura-urbanismo/259/opinioes-de-especialistas-temas-urgentes-no-mundo-e-como-os-364984-1.aspx

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