Amancio Williams: o diálogo entre o sonho da modernidade argentina e o modernismo internacional dos Ciam

Por: Luiz Florence
Edição 261 - Dezembro/2015
Ilustração: Artur Lopes

O argentino Amancio Williams foi um arquiteto que se destacava do chão, literalmente. Um homem 'preocupado em escapar da gravidade da Terra', como diz o arquiteto argentino Emilio Ambasz, em correspondência com Delfina Galvez de Williams, esposa e sócia de Amancio. Sua carreira como arquiteto começa aos 25 anos, após ter se envolvido, durante três anos, com aviação. E se o avião ensinou Le Corbusier a reinventar sua arquitetura e a reinterpretar o problema da habitação e das cidades, a lição do avião, para o argentino, passa por uma dimensão mais plástica e poética: a busca pelo céu e a leveza estrutural como representações de uma sociedade mais livre, progressista e moderna, em território argentino.
Em uma época em que o país e sua clientela de elite não tinham abraçado por completo a modernidade em arquitetura - como a fizeram, por exemplo, na literatura de Victoria Ocampo, Jorge Luis Borges e Julio Cortázar - Amancio Williams não se desprendeu de seus ideais utópicos de uma sociedade e cidades voltadas a um novo progresso, um novo ideal de sociedade e construção de homem moderno.
A produção de Amancio Williams é única entre seus contemporâneos argentinos pelo alinhamento com as produções do chamado estilo internacional da vanguarda moderna europeia. Enquanto vemos expressões tipicamente historicistas predominando na paisagem argentina, a arquitetura de Williams sempre apontou para um ideal progressista, que acompanhasse sua visão de 'espírito de uma nova era'. Essa visão de país refletida pelo progresso se exprime pelo seu relato sobre a chegada do Zeppelin Graf, vindo da Alemanha, em 1934. Sua descrição não poderia ser mais generosa: o arquiteto era então piloto, e estava destacado para escoltar a grande aeronave. É uma descrição que se aproxima da inspiração de Corbusier ao sobrevoar o território sul-americano, em sua primeira visita, em 1929, e uma influência e inspiração para o revolucionário aeroporto projetado por Amancio Williamns, mas não construído, sobre as águas do rio Prata, em Buenos Aires (1945). 'Nunca me esquecerei: como fundo, à direita de minhas asas prateadas, olhando para cima surgia o precioso Zeppelin, com seus elegantes movimentos contra o céu. Abaixo, o precioso rio da Prata, refletindo a luz prateada da alvorada; a estendida linha da costa do Uruguai, a visão desse país e a sensação de que mais à frente se encontrava o continente sul-americano', descreve Corbusier.

 

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