Existe um tamanho ideal para as cidades? Ou tudo depende de planejamento?

 

Nas palavras de Jane Jacobs, as cidades são a origem da inovação, diversidade, tolerância e prosperidade. A expansão territorial dos grandes centros urbanos parece refletir todo esse complexo movimento que ocorre para acomodar todas as transformações econômicas e sociais. Quanto, porém, elas podem crescer? Qual o tamanho ideal?
Cidade de Seoul. (Foto: Trey Ratcliff/Flickr-CC)
Cidade de Seul. (Foto: Trey Ratcliff/Flickr-CC)
Um recente estudo feito por economistas do National Bureau of Economic Research dos Estados Unidos tenta responder a essas perguntas ao analisar centros norte-americanos. Entre as conclusões, está o fato de que grandes cidades dos Estados Unidos poderiam ter seu tamanho reduzido em até um terço. Mais que isso, o país pode ter atualmente duas vezes mais cidades que o necessário, fazendo com que metade da população americana viva em lugares pequenos demais.
O tamanho das cidades parece ser, na maior parte dos casos, o resultado de processos orgânicos de expansão territorial, produto de decisões individuais. O estudo “A distribuição ideal da população através das cidades” buscou determinar o ordenamento de pessoas entre o sistema urbano e a área rural para explicar o tamanho das cidades americanas. Segundo os pesquisadores, existem três formas. A primeira, chamada “centralização ideal”, é quando as cidades fazem o uso otimizado dos melhores locais, extraindo os maiores benefícios para a maioria das pessoas com o menor custo. A segunda é a “distribuição das políticas locais”, quando o tamanho dos municípios é resultado dos movimentos populacionais, sem coordenação de governos. E a “migração equilibrada”, quando a população se instala conforme regulamentações locais.
Spiro Kostof, arquiteto e historiador, em seu livro “The City Shape”, caracteriza uma cidade orgânica: “Presume-se que se desenvolva sem a influência de desenhistas, não sujeita a um plano diretor, mas à passagem do tempo, à configuração do solo e à vida diária dos cidadãos. O resultado é uma forma irregular, não geométrica, ‘orgânica’, com uma incidência de ruas tortuosas, de curvas e espaços abertos definidos aleatoriamente. Para ressaltar esse processo ao longo do tempo de confecção de tais cidades, fala-se de ‘evolução não planejada’ ou ‘crescimento instintivo’”.
O problema dessa expansão orgânica é justamente o crescimento não-planejado, à mercê da demanda do mercado imobiliário, fato que gera dispersão e maiores distâncias dentro dos municípios. A infraestrutura urbana precisa acompanhar os movimentos da população para levar os serviços básicos até ela. Porém isso exige recursos financeiros que muitas vezes não são suficientes. Para a parcela mais carente dos cidadãos – que, no Brasil, historicamente se desloca para a periferia dos centros urbanos em busca de terrenos mais baratos -, isso fomenta ainda mais a desigualdade social.
Estatuto das Cidades, instituído em 2001, dispõe sobre as condições de ordenamento do desenvolvimento urbano no Brasil, estabelecendo como princípio a função social da propriedade, e como diretrizes o direito a cidades sustentáveis, a oferta de equipamentos, transporte e serviços, a ordenação e o controle do uso do solo nas cidades.
Junto ao Plano Diretor, todos os municípios de mais de 20 mil habitantes são obrigados por lei a elaborar o Plano de Mobilidade Urbana, outra oportunidade para as cidades pensarem no seu crescimento de forma mais sustentável. O Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS) defende um planejamento e desenho urbano orientado pelo transporte coletivo, que constrói bairros compactos e de alta densidade.
Em 1961, Jane Jacobs falava em cidades compactas, em criar redes. O tamanho ideal para as cidades pode ser baseado nessa mesma ideia da urbanista. Uma dimensão que permita que tudo se conecte, que não falte acesso à cidade e que nenhuma pessoa seja deixada de lado.

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