O ilusionismo do “planejamento” urbano

Artigo publicado pelo professor José Alberto Tostes, após o evento do II SAMA que aconteceu na segunda quinzena de março






Pela sexta vez estive na cidade de Palmas, Tocantins, oportunidade onde foi realizado o II Seminário de Arquitetura Moderna na Amazônia, nos dias, 13 a 16 através da parceria entre UFT e ULBRA. A cada viagem a um determinado lugar, ampliamos o nosso repertorio de experiências e visualizações sobre o ambiente citadino. Também agregamos novos amigos, que passam a interagir em uma grande rede de cooperação acadêmica, técnica e científica.
No limiar dessa sexta viagem, mais uma vez trocamos ideias com moradores, amigos, arquitetos, advogados e outras categorias a respeito de Palmas. É interessante, o sentimento que toma conta de muitos residentes da cidade, mistura-se um sentimento estranho. Para alguns, é difícil se acostumar com a cidade, para outros, existe uma enorme indiferença em relação a vivência com as peculiaridades. A cada quadra da cidade existem muros elevados, cercas, câmeras e outros dispositivos de “segurança”. Esse cenário não favorece o encontro entre as pessoas.
O desenho urbano da cidade de Palmas, aponta teoricamente para uma concepção “planejada”, todavia, quanto mais se conhece os detalhes sobre como a cidade funciona, mais dispersivo e segregador se apresenta a situação. Como conviver com um cenário onde existem múltiplas inquietações, angustias e problemas para serem equacionados. Como lidar com o governo? Como lidar os distintos interesses imobiliários? Como evitar que a população de forma individual contribua inconscientemente para elevar os níveis de uma cidade “abandonada” de urbanidade.
Quando nos deparamos com a centralidade de Palmas, também se constata o isolamento com a região de Taquaralto, verifica-se que as “tragédias urbanas” em Palmas são bem maiores do que o nosso imaginário possa alcançar. Você percebe que o “planejamento” urbano ilusionista entrou em cena, definiu o território entre os pobres e aqueles com maior poder aquisitivo, não são na sua totalidade os ricos, mas boa parte da classe média. Esconder a pobreza, sugere mais do que o desenho da cidade apresenta, a visão totalitária, da descriminação sem palavras.
Todavia, é em Taquaralto que existe a vida em comum. A vida em comunidade, algo bastante ressentido na centralidade de Palmas. A relação entre Palmas central e Taquaralto não é somente física, é de sentimento. Seria Palmas, o fracasso do arquiteto modernista? A derrota do planejamento? Ou o devaneio de um “planejamento” ilusionista? Quando nos deparamos com os estudos sobre a cidade de Palmas, textos e escritos da academia, as ideias são claras sobre o assunto, fica nítido que algo precisa ser feito.
Os habitantes de Palmas, tem grandes responsabilidades para com o futuro. O custo para administrar a cidade é elevado, segregador e alheio a realidade do entorno. A cidade por vários lugares, está repleta de conflitos, entre pessoas, instituições, com a Prefeitura e o setor imobiliário. A paisagem urbana de Palmas, carece de algo intenso, o carinho dos moradores, é preciso superar as artificialidades criadas por políticos, e até mesmo por arquitetos e urbanistas, alguns com o ego maior que a responsabilidade de atender o bem-estar da população.
O “planejamento” ilusionista, deixa sequelas, a principal delas é a falta de pertencimento ao lugar. As artificialidades de Palmas evidenciam que há um lugar robotizado, como é possível pensar para Palmas, edifícios com mais de 40 pavimentos? Onde o que mais se vê são espaços vazios? Como se pode pensar expansão urbana para um lugar onde necessita ser melhor adensado? Como pensar em anistiar áreas que são protegidas e ocupadas irregularmente?
Quando se estuda arquitetura e urbanismo, a ideia que vem à mente é que as cidades planejadas é o sonho de todo profissional, de atender aos princípios mais importantes que deve existir em uma cidade, qualidade de vida e integração. Então, como classificar o que ocorreu em Palmas, onde o pedestre é “invisível”, o ciclista não tem oportunidade de se locomover, as pistas não favorecem a esse tipo de transporte, rotatórias são barreiras físicas, e os vazios urbanos são sombrios durante à noite.
Portanto, as “tragédias” urbanas da cidade de Palmas, são cotidianas, são fraturas e fragmentações que precisam ser equacionadas. Cabe de forma responsável que a sociedade civil, os arquitetos e urbanistas, as instituições públicas, faculdades, universidades, gestores públicos e dirigentes despertem para evitar maiores danos no futuro, pois o futuro é agora! É preciso equacionar a relação do custo benefício. A sustentabilidade começa por pequenas atitudes e ações que serão fundamentais para o desenvolvimento do lugar.

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